Projeto Lumi

CRÍTICA: “O CHAMADO 4 – SAMARA RESSURGE”

Retomada da franquia pode trazer nova leva de filmes com apelo nostálgico

Antônio Pedro de Souza

A regra é clara: se uma história faz sucesso, ela vai gerar sequências, adaptações e refilmagens. E, após as refilmagens, um provável retorno à franquia original. “Halloween”, “A Morte do Demônio” e “O Massacre da Serra Elétrica” são apenas alguns exemplos dessa lógica. Agora, “O Chamado” passa a integrar esse filão.

Lançado no fim do século passado, “Ringu – O Chamado” trazia um enredo intrigante: uma jornalista começa a investigar mortes de pessoas que assistiram a uma misteriosa fita. A trama não é tão nova assim: tecnologia audiovisual usada para corromper almas e mentes humanas já era usada na década de 1980: “Videodrome” e “O Cérebro” se encaixam nessa categoria.

Mas “Ringu” conseguiu o feito de ganhar o seu espaço na cultura pop e ultrapassar as fronteiras do Japão. Quando o filme teve sua fama mundial reconhecida, ganhou uma adaptação estadunidense que angariou ainda mais amantes para a franquia, que se dividiu entre os filmes japoneses e norte-americanos.

Com o passar do tempo, a própria tecnologia atrapalhou o andamento de “O Chamado”, pois com o advento do DVD sobre as fitas VHS e o posterior crescimento dos serviços de streaming sobre os DVDs e Blu-Rays, os filmes de Samara ficaram datados. A personagem sofreu por sua própria maldição: ninguém mais assistiria uma fita de vídeo e, desta forma, não seria morto pela icônica personagem.

No Oriente, a primeira solução foi juntar as franquias “O Chamado” e “O Grito” (que também ganhara uma versão deste lado do planeta), além de criar spin-offs contando o início da maldição.

No Ocidente, muito se especulou sobre o destino de Samara, até que uns anos atrás começaram a sair informações de um novo “O Chamado” ou “Chamados”, o que acabou culminando em “O Chamado 3” que, embora não tenha alcançado o sucesso e a popularidade dos dois primeiros filmes, foi o responsável por levar Samara para as mídias digitais.

Agora, uma nova produção resgata a assassina da fita de vídeo dando sequência aos filmes japoneses e usando o título que dá continuidade aos filmes americanos. Ufa! Não entendeu? Calma que é complicado mesmo, mas a gente tenta resumir aqui:

Filmes japoneses:

1 – Ringu – O Chamado (1998)

2 – Ringu – Espiral (1998) – lançado para ser uma continuação imediata de “Ringu – O Chamado”

3 – Ringu – O Chamado 2 (1999) – desconsidera os eventos de “Espiral”, dado o fracasso de crítica e público deste, e passa a ser a “sequência original” do primeiro filme.

4 – Ringu 0 – Chamado (2000) – “filme de origem”, mostra como começa a maldição de Sadako (a Samara japonesa)

5 – A Invocação (2012) – Título original: “Sadako 3D”, considerada uma “continuação” de “Espiral” dividindo, assim, a franquia em duas linhas do tempo (“Halloween” manda lembranças!).

6 – A Invocação 2 (2013) – Título original: “Sadako 3D 2”, segue a ordem dos filmes “Espiral” e “A Invocação”.

7 – O Chamado x O Grito (2016) – Título original: Sadako vs Kayako, une as duas franquias de terror mais amadas do Oriente, algo que já havia acontecido no Ocidente com “Freddy x Jason” (2003). O filme, segundo críticos, conta como entretenimento, mas não serve como referência para nenhuma das franquias, já que desconsidera diversos elementos de ambas.

8 – Sadako: Capítulo Final (2019) – Continuação de “Ringu 2”, lançado duas décadas após, introduz Sadako às mídias digitais.

Filmes americanos:

1 – O Chamado (2002) – Refilmagem do clássico japonês nas terras do Tio Sam, o filme fez muito sucesso em cópias VHS (socorro!!!) e nos primórdios dos DVDs.

2 – O Chamado 2 (2005) – O diretor japonês da franquia foi chamado para esta continuação que acabou não agradando muito. No entanto, o filme mostra as origens da maldição de Samara e traz o elenco do filme de 2002 de volta.

3 – O Chamado 3 (2017) – Mais de dez anos após o “encerramento” da franquia nos EUA, Samara invade as mídias digitais, viralizando sua maldição nesta sequência quase esquecida pelo público.

AGORA:

O CHAMADO 4 – SAMARA RESSURGE

O problema deste novo filme é que não foi explicado de que linha temporal ou país ele seria sequência. E, considerando o filme de 2017, o título pode sugerir erroneamente se tratar de uma sequência dos filmes americanos.

Ledo engano. O filme, sequer, é considerado uma sequência dos filmes japoneses! O título original é “Sadako DX” e se define como uma “comédia de horror” que utiliza a história de Sadako (sim, a “Samara” japonesa) em um ambiente digital (já visto nas fitas anteriores, né?).

A maldição aqui é acelerada: em vez dos tradicionais sete dias, são vinte e quatro horas e o vídeo amaldiçoado pode ser encontrado à venda na internet. Há uma oposição humana na trama: um médium que acredita na maldição e uma especialista que diz que tudo não se passa de um terror psicológico que induz as pessoas à morte (olha o enredo de “O Cérebro” aí de novo).

Os efeitos são bacaninhas, mas o roteiro precisava ser mais amarrado, uma das qualidades vistas nas origens das franquias. Aqui, as situações parecem forçadas, feitas apenas para preencher os buracos (ou poços, hehehê) dos cem minutos de filme.

Enfim, o filme segue a linha mais cômica, deixando o terror em segundo plano. Isso não é um problema. Não, para quem perceber a tempo de que se trata de um capítulo à parte da franquia Oriental. Mas, quem for pensando se tratar de uma legítima sequência da franquia americana pode, simplesmente, cair no poço e sair frustrado da sala do cinema.

Bem, e por que a Paris Filmes foi ousada a ponto de dar esse título enganoso ao filme? Pelos mesmos motivos comerciais que fizeram uma distribuidora nomear erroneamente uma fita de “O Massacre da Serra Elétrica 3” lá nos anos 1980, dando, assim, espaço para “dois filmes parte 3” do cara de couro. Um original e outro “paralelo”.

É a boa e velha tática comercial reinando novamente. Entenda quem entender, o fato é Sadako ou Samara continua amaldiçoando quem assistir a seus vídeos. Sejam eles continuações oficiais, capítulos solo ou adaptações. Enfim, a franquia se expande e Samara/Sadako nos assombra. Sigamos (Pelo menos por sete dias – ou 24 horas)!

Assim, “O Chamado 4 – Samara Ressurge” é um filme que apela para a nostalgia – seja da franquia japonesa, seja da americana. O que abre precedentes para uma nova leva de filmes, deste ou daquele lado do planeta, como já foi visto com “A Morte do Demônio: A Ascensão”, “Pânico 5” e “Pânico 6” e “Super Mario Bros.”. Porque se tem uma coisa que os grandes chefões do cinema sabem – e fazem muito bem – é resgatar no público aquele gostinho de saudade dos tempos idos. O argumento pode não ser bom, mas funciona para atrair público – e grana!

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