Projeto Lumi

“Chernobyl: O Filme” relembra uma das maiores tragédias nucleares da história

Filme mostra os momentos que cercam o fatídico 26 de abril de 1986

Antônio Pedro de Souza

Pripyat, Ucrânia, URSS. Madrugada de 26 de abril de 1986. Uma explosão no reator 4 da Usina de Chernobyl dá início a um dos maiores acidentes radioativos da história. Pelos próximos dias, a área do reator pegaria fogo e espalharia gases e materiais tóxicos por uma vasta área. Até hoje, a região oferece perigo. O que originou o desastre? Quem foram os heróis daquela trágica manhã? Que impactos o acidente traria para os países da União Soviética?

O longa-metragem Chernobyl: O Filme, dirigido por Danila Kozlovskiy reconta os momentos que antecederam a tragédia da cidade de Pripyat, bem como os primeiros momentos após a explosão.

Centrado nos personagens Alexey (o próprio Danila Kozlovskiy), Lesha (Pyotr Tereshchenko) e Gloria (Oxana Alexandrowna Akinschina); o filme busca mostrar em rostos de anônimos, pessoas reais que estiveram na linha de frente da catástrofe que abalou o mundo pouco mais de três décadas atrás.

Alexey é um bombeiro da cidade de Pripyat, que inspeciona regularmente a Usina de Chernobyl. Durante um corte de cabelo, ele reencontra Gloria, seu amor do passado, e descobre que ela tem um filho, de quem ele pode ser o pai. A nova dinâmica familiar não será fácil para Alexey, acostumado com uma vida mais livre, nem para Gloria, acostumada a uma vida mais centrada no trabalho e na criação do pequeno Lesha.

O garoto tem talento e gosto para o cinema, mas não possui um equipamento adequado ao seu desenvolvimento; buscando se aproximar do possível filho, Alexey lhe dá uma câmera moderna, com a qual o garoto passa a filmar as redondezas de seu bairro.

Numa noite, o menino sai com alguns amigos para fazer registros da famosa usina que é a causa da existência da cidade de Pripyat e acaba flagrando algo assustador: uma explosão num dos reatores.

O dia amanhece e Alexey, que está deixando o Corpo de Bombeiros para ter uma vida mais tranquila, descobre que o acidente da madrugada pode ser mais grave que o imaginado (ou divulgado pelas autoridades), rumando para Chernobyl, ele descobre que a usina está em colapso e que a vida de todos – incluindo a dele – corre um grande perigo.

O filme passa, então, a retratar os voluntários – bombeiros, militares e civis – que tentaram conter os danos da tragédia, bem como Alexey, dividido entre ficar com a família ou ajudar numa missão que pode salvar boa parte do continente europeu, mas acabar com sua própria saúde.

Entre as muitas idas e vindas de Alexey ao local da explosão, acompanhamos os danos causados pela radiação não apenas nele, mas nos demais trabalhadores que se arriscaram para que uma explosão ainda maior não ocorresse.

Denso e aflitivo, o filme se assemelha, em alguns momentos, a um documentário: fornece os dados necessários para conhecermos a história real e volta, então, ao modo ficcional, conduzindo o espectador pelo drama dos vários personagens que conhecemos nas mais de duas horas de projeção.

A trilha sonora acerta em todos os momentos, sabendo ser forte e poderosa nos momentos de tensão, além de calma e melancólica nos momentos mais tristes. Destaque também para o ator Pyotr Tereshchenko, que interpreta o pequeno Lesha. Ele tem carisma e grande presença em cena.

História:

A cidade de Pripyat foi construída por causa da usina. Sua fundação começou em meados dos anos 1970 e abrigou trabalhadores do empreendimento que era um símbolo da União Soviética.

A explosão do reator 4 aconteceu por uma infeliz coincidência de erros: havia uma falha estrutural na usina, o que obrigou os técnicos a realizarem testes e melhorias anuais para garantir a segurança. Em 25 de abril de 1986, mais um teste seria realizado e, para isso, vários sistemas de segurança foram desligados, simulando, assim, uma situação de emergência. Um atraso no início do teste, fez com que os trabalhadores de um turno (e que executariam os procedimentos) fossem substituídos pelos trabalhadores do turno seguinte, que deveriam observar outros aspectos da simulação e não, necessariamente, iniciá-la.

Ao começar a simulação, observou-se um resfriamento atípico e um reaquecimento brusco dos reatores, o que liberou uma quantidade de vapor maior que o reator poderia conter, já que ele estava trabalhando bem abaixo de sua capacidade, por causa do tal “teste de segurança”. Esse excesso de vapor ocasionou a primeira explosão, que desencadeou uma segunda, que lançou fragmentos de materiais radioativos por uma área imensa ao redor da usina, além de originar o incêndio no local.

Catástrofe:

A Ucrânia foi duramente atingida pela onda de vapores radioativos e as cidades de Chernobyl e Pripyat tiveram que ser evacuadas. A floresta, ao redor da usina, ficou “vermelha” e muitas árvores morreram por causa dos efeitos da radiação. Uma mudança no vento, enviou os vapores mortais para a Bielorrússia, que teve a maior parte do seu país contaminado. Também houve contaminação na Rússia e em outros pontos da Europa.

Governo:

Inicialmente, o governo soviético negou qualquer problema em Chernobyl, porém, quando técnicos da Suécia fizeram medições e viram que havia mais material radioativo no ar que o de costume, uma pressão internacional obrigou os soviéticos a exporem a tragédia ao mundo. Para minimizar os danos, a URSS disse que o acidente havia ocorrido em 28 de abril e tivera impactos mínimos. A verdade, porém, não tardou vir à tona, embora o governo local tenha tentado encobrir o número real de vítimas.

Vítimas:

Oficialmente, duas pessoas morreram no momento da explosão, e outras dezenas nas horas e dias seguintes. Porém, com o passar do tempo, verificou-se um número que ultrapassou a casa do milhar. As primeiras vítimas diretas foram os bombeiros, policiais e técnicos que tentaram resgatar as vítimas da explosão inicial, bem como apagar o fogo. Eles foram expostos a níveis altíssimos de radiação. Com o tempo, outras pessoas que tiveram menos contato com os materiais radioativos, mas ainda assim, ficaram expostas, apresentaram problemas como câncer, infertilidade, entre outros.

Tragédia maior evitada:

Chernobyl: O Filme se concentra também na história de Alexey, Boris e Valera, voluntários que evitaram uma tragédia ainda maior: havia um imenso tanque abaixo do reator 4, usado para seu resfriamento. Porém, com o incêndio, um cano havia se rompido e parte do material incandescente foi em direção a essa “piscina”. Se o local esquentasse demais, poderia haver uma nova explosão que alçaria vapor radioativo por boa parte do continente europeu. A missão dos voluntários era entrar na água (quente, turva e radioativa), procurar as válvulas de escape e drenar o imenso volume de água antes que o local fosse pelos ares.

Após:

Para conter o vazamento de resíduos tóxicos, foi construído um sarcófago de aço e concreto em torno do reator 4 e as cidades de Pripyat e Chernobyl foram totalmente evacuadas.

O acidente intensificou o declínio da URSS. No começo dos anos 1990, Ucrânia e Bielorrúsia proclamaram sua independência e, durante aquela década, a URSS chegou ao fim.

Em 2016, um novo sarcófago, mais reforçado que o original, foi construído no local. Estima-se que a área de Pripyat fique inabitável por um período que vá de 3.000 a 20.000 anos, porém, algumas famílias voltaram para a região e o governo local liberou alguns pontos, em que a radiação é menor, para turismo.

No Brasil:

Pouco mais de um ano após o acidente em Chernobyl, uma tragédia envolvendo radiação aconteceu em Goiânia, Goiás, no Centro-Oeste brasileiro. Catadores de materiais recicláveis abriram uma cápsula contendo Césio-137. O pó, que brilhava no escuro, chamou a atenção de vizinhos e amigos e acabou contaminando centenas de pessoas. Várias morreram nas primeiras semanas por causa da forte radiação.

Cotação por ossos: 10

Deixe um comentário

Preencha os seus dados abaixo ou clique em um ícone para log in:

Logo do WordPress.com

Você está comentando utilizando sua conta WordPress.com. Sair /  Alterar )

Foto do Facebook

Você está comentando utilizando sua conta Facebook. Sair /  Alterar )

Conectando a %s

%d blogueiros gostam disto: