Filme estrelado por Milla Fernandez e Lorena Castanheira flerta com o sobrenatural, enquanto constrói trama de romance improvável
Christabel, jovem filha de um trabalhador rural e noiva de um vaqueiro, tem a tranquilidade de sua vida rompida quando conhece Geraldine. É noite, o pai de Christabel dorme e seu noivo partiu numa viagem que visa atravessar a boiada pelo Rio Araguaia. Angustiada, a moça vai ao quintal e ouve um gemido. É quando descobre Geraldine, uma mulher acuada, que diz ter sido atacada por homens misteriosos.
Compadecida com a situação da mulher, Christabel a acolhe em sua casa. O dia amanhece e Leonel, pai da protagonista, mostra-se arredio em relação à presença da mulher misteriosa. Porém, com o passar do tempo, Geraldine passa a exercer uma influência sobre pai e filha, criando laços que começam a ultrapassar as raias da amizade e do acolhimento.
Enquanto Christabel passa a sentir uma curiosidade crescente em relação à mulher que abrigou – seu modo de vida, seus costumes – Leonel passa a se sentir sexualmente atraído pela estranha. Em alguns momentos, ele a observa dormir. Ao perceber esse encantamento de seu pai para com a “visita”, Christabel sente um inexplicável ciúme.

Os interesses crescem, mas Geraldine se recusa a deitar com Leonel, deixando-o confuso. Ela, então, revela um segredo do passado, o que faz com o que o homem parta em uma jornada pessoal para tentar corrigir erros cometidos a muito tempo e deixando a filha sozinha na companhia da não mais estranha Geraldine.
Paralelo a esses acontecimentos, acompanhamos a viagem do noivo de Christabel e como ele, fatalmente, cairá em tentações enquanto tenta reafirmar seu amor imortal pela noiva.
Ao se ver sozinha com sua anfitriã, Geraldine põe em prática seu plano de dominação – psicológica, emocional e, finalmente, carnal – numa trama que guarda um suspense crescente, angustiante e que deságua num final de gelar a espinha.

Livre adaptação do poema homônimo escrito pelo britânico Samuel Taylor Coleridge no século XVIII, o filme aborda o sobrenatural de forma suave. Os elementos não são jogados na tela de forma rápida, mas inseridos aos poucos, de acordo com o que pede cada cena ou situação. As personificações de personagens como “Vampiro” e “Morte” são feitas de maneira tão natural, que nos apegamos a eles e até torcemos para que eles tenham um “final feliz”.
Os cenários naturais em que as cenas externas foram gravadas também contribuem para o clima gostoso do filme: as cenas diurnas e noturnas se sucedem naturalmente, fazendo com que o filme não fique cansativo, claro ou escuro demais. Tudo é moldado cuidadosamente.
Há, no entanto, dois aspectos que precisam ser apontados: o primeiro, é a forma como algumas cenas foram rodadas, com a câmera “por fora” de uma janela, dando a sensação de que alguém espreita os personagens dentro do cômodo em questão. Essa ideia apareceu em várias cenas da novela “O Outro Lado do Paraíso” (Globo, 2017) e nas novelas seguintes. É boa, quando usada com parcimônia. Aqui no filme, pareceu meio deslocada, até porque quando alguém observa os personagens, a “presença estranha”, marcada por Geraldine, está dormindo. Para contrapor esse “deslize”, temos a bem executada interação com os morcegos no telhado que, dia após dia, parecem aumentar sua população nas dependências da casa. A escolha pelos morcegos foi acertada.

O segundo ponto questionável é a duração do filme! O longa possui 112 minutos, quando poderia ter, facilmente e sem prejudicar o entendimento da trama, 90 minutos. Entendam que ele não é cansativo em nenhum momento, mas algumas cenas e tomadas são demasiadamente longas e poderiam ser suprimidas ou reduzidas à metade. Em determinado momento, a impressão que passa é que o filme não tem mais história para contar, a não se mostrar a rotina de Christabel tentando agradar sua visita…
Fora isso, o filme é belíssimo e merece muito ser visto, respeitado e preservado pela nossa memória cultural.
***
Nota: 9 ossos e meio

FICHA TÉCNICA:
Direção: | Alex Levy-Heller |
Roteiro: | Alex Levy-Heller baseado no poema homônimo de Samuel Taylor Coleridge |
Edição: | Alex Levy-Heller |
Trilha Sonora: | Não informado |
Produção: | Lorena Castanheira Marcelo Pedrazzi Rodolf Mikel Alexandre Rocha Alex Levy-Heller |
Elenco: | Milla Fernandez (Christabel) Lorena Castanheira (Geraldine) Julio Adrião (Leonel) Nill Marcondes Alexandre Rodrigues (Noivo) Camila Mollica |
Ano de Produção/Lançamento: | Filmado em 2018, lançado em 25/02/2021 |
País de Origem: | Brasil |
Duração: | 112min |
Idioma Original: | Português |
Cor: | Colorido |
Estúdios/Distribuidoras: | Alelo Filmes Pipa Pictures |
Gêneros: | Romance Ficção |
Um comentário em ““Christabel”: adaptação brasileira de conto sobre vampirismo surpreende positivamente”