Filme mescla “found footage” com técnica convencional e explora o medo do desconhecido
Dividindo gostos desde 1980, quando “Holocauto Canibal” foi lançado, o estilo de filmagem conhecido como found footage vem fazendo história nas últimas quatro décadas. Basicamente, este tipo de filme explora a máxima de “arquivos encontrados” em um determinado local. Ou seja, o produtor das imagens está desaparecido ou morto e, a partir do material encontrado, é feita a reconstituição da história. Um dos maiores expoentes desse tipo de filme foi A Bruxa de Blair, em 1999, ao qual se seguiram inúmeras produções; sendo algumas melhores e outras bem piores. Em 2007, Rec, reavivou o gênero, abrindo as portas para nova leva de produções que, assim como na virada do milênio, saturaram esse estilo de filmagem.
Com A Viúva das Sombras, a grata surpresa é que o filme não é todo em found footage e essa mescla contribui bastante para a fluidez do filme, deixando-o prazeroso de ser assistido na íntegra.
A história gira em torno de uma lenda que ocorre nas cercanias de uma floresta: há décadas, uma mulher supostamente teria matado o marido e, por isso, foi perseguida e linchada pela população. Nos anos seguintes, pessoas começaram a desaparecer ao entrar na floresta e, quando seus corpos eram encontrados, estavam sem roupas.

Tal lenda parece ter se entranhado nos costumes locais, de modo que ninguém confirma, nem refuta os acontecimentos. Porém, num dia em que uma equipe de bombeiros realiza um treinamento nas cavernas da região, acompanhados por uma repórter, um pedido de socorro é feito: um adolescente desapareceu naquela mata, o que reacende o mistério em torno da misteriosa figura da viúva das sombras.
A partir deste ponto, temos uma proximidade deste filme com os demais citados acima: um grupo perdido no meio da floresta, tendo que lidar com uma presença sobrenatural e descobrindo pistas, como desenhos e entalhes em árvores, como vimos em A Bruxa de Blair; uma repórter, que tenta fazer seu trabalho em meio ao trabalho dos bombeiros, como visto em Rec. Essas semelhanças, porém, não diminuem a qualidade do filme, nem o fazem soar como uma simples cópia das histórias anteriores. Ele tem uma identidade própria, um enredo, uma lenda pra chamar de sua.
Assim, podemos dizer que os criadores de “A Noiva”, foram muito mais felizes nesta obra que na anterior. O filme prende o espectador, abrindo diversas perspectivas sobre a origem e o futuro da lenda mesmo que, no fim, tenha que apontar um caminho para o entendimento do público.

Como dito no começo deste texto, outro ponto positivo, é o fato de não se escorar apenas no formato found footage, o que empobreceria consideravelmente a história. Ao mesclar as formas de filmagem, o longa-metragem nos leva a uma experiência completa, com três pontos de vista: a do narrador-observador: câmera tradicional, colocada em diversos ângulos, incluindo cenas aéreas e no nível do chão; e narradores-observadores 1 e 2, representados pela jornalista e suas inúmeras câmeras; e pelo adolescente desaparecido e seu celular. A soma destes três pontos de vista faz com que o filme enriqueça, tanto na esfera narrativa, quanto na técnica.
As tomadas noturnas e os efeitos sonoros dão um show à parte, propiciando o envolvimento que a história precisa. Impossível passar despercebido pela sirene do veículo dos bombeiros ou pelo chacoalhar das moitas durante a madrugada. Sem precisar apelar para uma história mirabolante, o longa consegue despertar em nós aquele primitivo medo do escuro.
Filme de terror simples e eficaz!
***
Nota: 10 ossos

FICHA TÉCNICA:
Direção: | Ivan Minin |
Roteiro: | Natalya Dubovaya Ivan Kapitonov Ivan Minin |
Edição: | Não informado |
Trilha Sonora: | Não informado |
Produção: | Ivan Kapitonov Svyatoslav Podgaevskii Alexander Emelyanov Vadim Vereschagin Rafael Minasbekian |
Elenco: | Viktoria Potemina Anastasiia Gribova Margarita Bychkova Ilia Agapov Aleksei Aniskin Konstantin Nesterko Olev Chugunov |
Ano de Produção/Lançamento: | 2020 lançado em 04/03/2021 (Brasil) |
País de Origem: | Rússia |
Duração: | 86min |
Idioma Original: | Russo |
Cor: | Colorido |
Estúdios/Distribuidoras: | Paris Filmes (Brasil) |
Gênero: | Terror |
Uma resposta para ““A Viúva das Sombras” e a ressignificação do “medo do escuro””
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