Mostra on-line: Obra de Krzysztof Kieślowski está disponível nas plataformas digitais

Ao todo, 10 filmes integram a mostra

Antônio Pedro de Souza

            Dez filmes do cineasta Krzysztof Kieślowski estão disponíveis em uma mostra on-line em diversas plataformas de streaming. Os filmes podem ser conferidos no Google Play, Apple TV, Now, Youtube e Vivoplay.

            O cineasta polonês ficou famoso com a série O Decálogo, que teve episódios lançados como filmes: Não Matarás e Não Amarás. Posteriormente, ganhou um novo período de notoriedade com a Trilogia das Cores: A Liberdade é Azul, A Igualdade é Branca e A Fraternidade é Vermelha.

            Confira abaixo os títulos que compõem a mostra:

            A Cicatriz (1976)

            Em ‘A Cicatriz’, o polonês faz uma forte crítica ao governo da Polônia, nos anos 1970, que sofreu com o conturbado período do regime comunista de Władysław Gomułka. Como é possível ver em suas produções seguintes, esse filme também traça o contexto político do país em contraponto com a vida do personagem principal. Ao longo de sua obra, Krzysztof Kieslowski soube dosar bem as críticas que tece com o clima dos filmes, no caso de ‘A Cicatriz’, o cineasta traz uma atmosfera densa e boa fotografia, que funciona como encaixe perfeito para retratar debates políticos.


            Amador (1979)

            ‘Amador’ foi um dos primeiros filmes de ficção de Kieslowski e a narrativa lembra o formato de documentário. O filme conta a história de um homem que compra uma câmera para filmar os primeiros passos de sua filha recém-nascida e acaba se apaixonando por algo que começou como hobby. O protagonista fica fascinado pela ideia de fazer filmes com fatos corriqueiros e isso acaba trazendo consequências para sua vida pessoal. Krzysztof Kieslowski mostra como os filmes podem mudar a vida de uma pessoa ao mostrar como um homem comum acaba se tornando um cineasta em ‘Amador’. Se você é amante de cinema, precisa assistir a essa ótima obra do diretor polonês.

             Sorte Cega (1987)

            ‘Sorte Cega’ pode ser reconhecido com um clássico de Krzysztof Kieslowski, é o terceiro longa-metragem de ficção da carreira do polonês e discute a situação política da Polônia, na década de 1980, e como o acaso pode definir a vida das pessoas. O filme foi finalizado em 1981, mas só pôde ser lançado em 1987 devido às críticas que faz ao regime comunista. ‘Sorte Cega’ explora como a Polônia foi afetada pelo comunismo, que não tinha apoio público e que isso, sem dúvida, faria que com que durasse pouco tempo – o que realmente aconteceu. No filme, Krzysztof Kieslowski questiona os possíveis rumos que o país poderia seguir, entre continuar com o regime comunista ou adotar outro caminho político. Podemos interpretar que não é de fato a política polonesa que Kieslowski quer analisar, mas a capacidade do ser humano de reagir a insatisfação – tenha teor político ou não.

             Sem Fim (1985)

            ‘Sem Fim’ é ambientado em 1982, período em que a Polônia enfrentou dificuldades econômicas e grupos opositores com a declaração da Lei Marcial – qualquer cidadão que fosse pego realizando conspiração contra o Estado seria preso e acusado traição à nação. Por conta disso, os movimentos de oposição, como a Solidarność – em português, Solidariedade – foram proibidos e seus líderes presos. Esse contexto é necessário para que o espectador possa entender a crítica que o diretor Krzysztof Kieslowski fez com sua obra. No filme, um advogado é assassinado e seu fantasma acompanha a história e seu personagem pode ser interpretado como um simbolismo ao movimento Solidariedade. Através do luto da esposa dele, acompanhamos as transformações dela para lidar com a perda e também como o país passou por uma repressão durante o período da Lei Marcial, onde a esperança vista nos movimentos de oposição foram de certas forma também assassinadas. ‘Sem Fim’ foi o primeiro filme de Kieslowski com o roteirista Krzysztof Piesiewicz, juntos eles fizeram uma parceria de longa data.

             Não Matarás (1985)

            Essa é a versão cinematográfica de ‘O Decálogo’, uma série televisiva polonesa que fez Krzysztof Kieslowski ficar conhecido mundialmente, baseada nos Dez Mandamentos. Dois episódios foram adaptados para serem lançados no formato de longa-metragens, ‘Não Amarás’ e ‘Não Matarás’, que foi vencedor dos prêmios da crítica internacional e do júri em Cannes. ‘Não Matarás’ lembra um documentário, pela maneira como foi filmado, e também pela construção da história, deixando o espectador livre para tirar suas próprias conclusões em meio aos acontecimentos.

             Não Amarás (1988)

            ‘Não Amarás’ foi exibido na Mostra Internacional de Cinema de São Paulo, em 1989, e premiado como melhor filme pela escolha do público. O longa também faz parte de ‘O Decálogo’, série televisiva polonesa que fez Kieslowski ganhar reconhecimento internacional. ‘Não Amarás’ conta a história de um jovem que estava apaixonado por sua vizinha mais velha e o diretor fez uma ótima comparação do voyeurismo do protagonista com a experiência cinematográfica. A produção discute o limite entre o amor e obsessão, com um fundo político que costuma aparecer na primeiras obras de Krzysztof Kieslowski – apesar disso, ele não é considerado um cineasta político.

 A Dupla Vida de Veronique (1991)

            Irène Jacob, de ‘A Fraternidade é Vermelha’, dá vida a duas personagens em ‘A Dupla Vida de Véronique’, que são idênticas tanto na aparência quanto na forma como levam suas vidas. O filme é bem poético e tem uma trama vaga, o que dificulta sua complexidade. O próprio diretor, Krzysztof Kieslowski, descreveu que a obra foi difícil de ser adaptada ao cinemas pois fala de sensibilidade, pressentimentos e relacionamentos que são difíceis de nomear. A produção é carregada de metalinguagem e cada cena funciona como uma experiência, tanto para quem filmou como para quem assiste. Em ‘A Dupla Vida de Véronique’ vemos que o cineasta explora bem os personagens femininos, assim como vemos em ‘Trilogia das Cores’, que foi lançado anos depois. É também o primeiro filme em que Krzysztof Kieslowski trata de dualidade, sincronicidade e faz uma imersão nisso carregada de devaneios.

 A Liberdade é Azul (1993) 

Um dos cineastas mais importantes da Polônia e com uma das obras mais marcantes do cinema independente, Krzysztof Kieślowski deixou sua marca na sétima arte. E um dos projetos mais ousados e reconhecidos do diretor foi com a trilogia das cores — formada pelos filmes ‘A Liberdade é Azul’, ‘A Fraternidade é Vermelha’ e ‘A Igualdade é Branca’. No caso do primeiro filme, de 1993, acompanhamos uma mulher (Juliette Binoche, completamente magnética na tela) que cansa de viver após a morte de toda sua família em um acidente. Com uma direção poética e ao mesmo tempo realista de Kieślowski, o espectador é levado a mergulhar nessa história que retrata a liberdade de uma maneira que nunca pensamos: como algo frio, triste, distante. Daquelas histórias que, quando sobem os créditos, repensamos a vida. E tem algo melhor no cinema do que uma reação dessa?

 A Igualdade é Branca (1994) 

Um dos cineastas mais importantes da Polônia e com uma das obras mais marcantes do cinema independente, Krzysztof Kieślowski deixou sua marca na sétima arte. E um dos projetos mais ousados e reconhecidos do diretor foi com a trilogia das cores — formada pelos filmes ‘A Liberdade é Azul’, ‘A Igualdade é Branca’ e ‘A Fraternidade é Vermelha’. No caso do segundo filme, de 1994, temos um tom diferente do resto da trilogia. Afinal, este é o único que Kieślowski tratou com um olhar humorístico. Isso acabou gerando polêmica. Uns amam o longa, outros odeiam. Mas o fato é que é excelente a premissa conta a história de um imigrante que vê seu casamento chegar ao fim de uma hora pra outra. Dessa forma, ele acaba sendo deportado de volta pra Polônia. A partir daí, Kieślowski desenvolve uma trama divertida, ácida e irônica sobre as aparências e, principalmente, sobre a falta de diversidade. Um filmaço que, apesar de ser leve e divertido, fala sobre injustiça como poucos.

 A Fraternidade é Vermelha (1994) 

Um dos cineastas mais importantes da Polônia e com uma das obras mais marcantes do cinema independente, Krzysztof Kieślowski deixou sua marca na sétima arte. E um dos projetos mais ousados e reconhecidos do diretor foi com a trilogia das cores — formada pelos filmes ‘A Liberdade é Azul’, ‘A Igualdade é Branca’ e ‘A Fraternidade é Vermelha’. No caso deste último filme, de 1994, conhecemos dois personagens absolutamente cativantes. Um deles é uma mulher (Irène Jacob) que atropela um cachorro e, desesperada, vai atrás do dono. É aí que entra a história de um juiz aposentado que vive espionando as conversas telefônicas de seus vizinhos. A partir daí, Kieślowski mostra a amizade entre essas duas figuras surgindo, se transformando e ganhando força num cenário absolutamente forte e real. É um filme sobre amor fraternal, que nos coloca no olhar e na pele do outro.

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Imagens: Divulgação Imovision

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