PARTE 1 – SEXTA-FEIRA 13
Leia aqui o primeiro capítulo
Antônio Pedro de Souza
SEXTA-FEIRA 13 – PARTE II
Ano de Lançamento: 1981
Como em todo filme da série, “Sexta-Feira 13 – Parte 2” tem seus bônus e ônus. Comecemos pelos bônus: é um filme inquietante, consegue manter o suspense e o terror crescentes do primeiro filme e, óbvio, é um capítulo a mais no hall da fama dos slasher movies. E quanto aos ônus? Bem, pra começar, ele já muda violentamente a mitologia do primeiro filme. Como assim? Todos sabem que Jason morreu afogado em 1957 e, por isso, sua mãe surtou e resolveu se vingar de todos os monitores nos anos seguintes, certo? Quero dizer, o único motivo de a senhora Voorhees ter se tornado uma assassina em série foi porque seu filho morreu muitos anos antes. Aí, em 1980, depois de eliminar nove pessoas em Crystal Lake, ela é morta por Alice. Ótimo. Vingança encerrada.
Ledo engano. Estamos na década de 1980 e qualquer coisa que faça minimamente sucesso vai ganhar uma continuação (o mesmo ocorreria na década seguinte). Pra se ter ideia, até o clássico imortal de Alfred Hitchcock, Psicose, ganharia nada menos que três sequências nos anos 80. Então, pegando carona nessa onde de continuações e no próprio sucesso do primeiro filme, a Paramount tratou logo de encomendar uma Parte 2 para Sexta-Feira 13.
O interessante aqui (e que também ocorrerá em A Hora do Pesadelo) é que os filmes não são, de certo modo, planejados. Quero dizer, “continuação” é algo incrivelmente comum no cinema, mas a gente percebe quando uma história é planejada para ter várias sequências desde o primeiro episódio e quando tais sequências são feitas apenas em razão do dinheiro obtido com o primeiro filme. Na maioria dos filmes de terror, é isso o que acontece. Sexta-Feira 13 e A Hora do Pesadelo não fugiriam à regra.
Temos, então, o primeiro problema da série: Jason morreu ou não em 1957? Quem é o menino que puxa Alice para dentro do lago – se é que a cena realmente existiu ou não foi apenas um pesadelo da moça?
Podemos imaginar dois pontos de vista, ambos mal explicados ao longo dos filmes:
1º – Jason realmente se afogou em 1957. Após isso, sua mãe resolve se vingar de qualquer um que tente reabrir o acampamento no Lago Cristal. Em 1980 ela é morta e uma força das trevas faz ressurgir a figura do seu filho do mundo dos mortos que, por sua vez, passa a buscar vingança.
2º – Jason não morreu. Na verdade, ele sofreu um quase afogamento, mas a mãe conseguiu salvá-lo e o levou para uma cabana no meio da floresta (essa cabana é mostrada nas partes 2 e 3). Por ele ter deformidades, que faziam com que sofresse bullying, ela preferiu usar a desculpa do afogamento para afastá-lo do convívio social – inclusive da própria família – evitando mais problemas. Para manter segura a sua mentira, Pamela Voorhees se tornou uma espécie de “guardiã” de Crystal Lake, por isso passou a investir pesado par evitar a reabertura do lugar. Afinal, qualquer um que tivesse um pouco mais de curiosidade para adentrar nas matas da região, fatalmente descobriria a cabana de seu filho amado e seu segredo estaria arruinado. Com a sua morte em 1980, Jason se ressente e resolve tomar para si esse cargo de “guardião”, estendendo a sua vingança a todos que se aproximem do lugar. Essa versão parece mais plausível, pelo andamento dos filmes a partir de agora.
O segundo problema que essa 2ª parte nos traz é a localização de Crystal Lake. Mas disso eu comento durante o enredo do filme. De acordo uma anotação na capa do DVD, eu comprei meu exemplar de “Sexta-Feira 13 – Parte 2” em primeiro de julho de 2008 – já tinha lido os textos do Felipe M. Guerra. Devo tê-lo assistido durante as férias da faculdade naquele mês mesmo. Sei que gostei bastante da história e, hoje, apesar dos problemas que já citei e ainda citarei, é um filme tão bom quanto o primeiro. Então, vamos ao enredo da parte 2:
Enredo:
De acordo com as falas do presidente do novo acampamento, os eventos começam dois meses após o primeiro filme e, depois, há um salto de 5 anos. A história começa em uma noite, numa cidade, com um homem andando pelas ruas. Vemos apenas seus pés. Ele para em frente a uma casa e descobrimos que Alice, sobrevivente do filme original e assassina de Pamela Voorhees, mora naquela casa. Ela tem terríveis pesadelos com o que aconteceu. O sonho, além de mostrar o estado mental delicado em que Alice se encontra, serve para nos resumir o primeiro filme. Abrindo, assim, essa sequência.

Se o começo é promissor (sabemos, mesmo se não tivermos assistido ao primeiro) que houve um banho de sangue, é aqui que temos o primeiro furo no roteiro/cronologia da série: pra começar, Alice sobreviveu ao massacre original e mora sozinha – embora tenha uma ligação com parentes. Pois bem, passaram-se apenas dois meses da carnificina. Por que, diabos, ela estaria sozinha, sem ninguém pra lhe fazer companhia? Cadê os laços familiares aqui? A menina passou por um baita trauma, gente! Mas, tudo bem, ela teve que ser forte e superar rápido, quer conquistar sua independência e tal. Ela mesma fala isso à mãe durante um telefonema. Louvável, embora precipitado. Passemos, então, ao problema seguinte: a localização. Em nenhum filme ficou claro o local exato em que Crystal Lake está inserido. Sabemos que a cidade e o imenso lago estão num local afastado, mas quão afastado é isso ou a que estado dos Estados Unidos a cidade pertence, não sabemos dizer. Então, para corroborar com os eventos vistos nas próximas sequências – em especial a 8ª, 9ª e Freddy x Jason – vamos marcar como localização do Crystal Lake, o local em que foi filmado o primeiro filme: o acampamento No-Be-Bo-Sco! O acampamento existe de verdade e foi a principal locação para as filmagens de Sexta-Feira 13, tendo se tornado o acampamento Crystal Lake nas telonas. No-Be-Bo-Sco fica no estado de Nova Jersey (o que facilita a compreensão das citadas partes acima). Pois bem, voltando para a ficção, Alice dorme em sua cama e tem sonhos horríveis com o que aconteceu dois meses atrás. A questão aqui é: onde fica a casa de Alice? Se o homem a persegue e saberemos depois que é Jason, então podemos supor que Alice está nas proximidades de Crystal Lake. Mas, porque ela resolveria morar ali após todo o trauma passado? E pior: sozinha? Vale lembrar que, em um diálogo com Steve no primeiro filme, ela sequer queria ficar no acampamento até o fim do verão. Steve custa a convencê-la ficar por, pelo menos, uma semana no local. Agora, depois de todo esse massacre, ela resolve morar numa casinha ali perto? É masoquismo que fala, minha filha? Tudo bem que pode não ter sido uma escolha só dela: como única testemunha dos homicídios e como assassina – em legítima defesa, vale ressaltar – de Pamela Voorhees, pode ser que a polícia a tenha feito ficar na cidade até o fim do inquérito. Em se tratando de assassinatos, isso pode demorar mesmo. Mas não dava pra ter deixado um guarda de prontidão na porta da garota, pelo menos?
Outra hipótese, e essa ferra ainda mais com o roteiro, é que Alice voltou para sua cidade após os eventos do filme um. Lá, ela está tentando recomeçar a vida e, por isso, mora sozinha. Mas, por que essa hipótese ferra com o roteiro? Porque no primeiro filme, no diálogo com Steve, Alice diz que talvez tenha que voltar à Califórnia para resolver um problema pessoal. Êta! Qualquer um com um pouco de tempo livre, um mapa (o Google ajuda nisso atualmente) e disposição para escrever um longuíssimo texto sobre filmes de terror da década de 1980, pode pesquisar a distância entre Nova Jersey e a Califórnia! São, nada menos, que duas mil, setecentas e sessenta e uma milhas, ou quatro mil, quatrocentos e quarenta e três quilômetros e alguns metros… Isso no caminho mais curto (de acordo com o Google Mapas) e de carro! Jason não dirige e é impensável que ele tenha ido de avião… A menos que tenha ido a pé, por isso levou os dois meses pra chegar lá, fazer seu trabalho e voltar também a pé para, cinco anos depois, atacar novamente. Estava se recuperando fisicamente, né?
Enfim, independentemente de Alice estar morando nas proximidades de Crystal Lake (inconsequência da moça) ou na Califórnia (inconsequência do Jason), Jason invade a casa e a mata! Sim, é isso mesmo. A grande heroína do primeiro filme, simplesmente sucumbe nos primeiros dez minutos de Sexta-Feira 13 – Parte 2. Lembram de O Albergue 2? Pois é, Eli Roth deve ter se inspirado aqui… É claro que rola uma tensão aqui, outra ali, um falso susto (com um gato), um susto verdadeiro (com a cabeça da mãe de Jason na geladeira) e… bam! Ela é assassinada pelo vilão! Entram os créditos e conhecemos os novos e desafortunados integrantes da história.
É um dia de sol em Crystal Lake. A cidade respira paz nos últimos cinco anos. Depois dos eventos no Acampamento Crystal Lake, ninguém tentou reabri-lo, mas como o lago é imenso, existem várias propriedades em sua orla: fazendas, armazéns, casas de campo e, claro, outros acampamentos. E é nesse cenário que se desenvolve essa parte 2. Um carro cruza as ruas da cidade carregando alguns jovens que trabalharão no novo acampamento. Na verdade, eles farão um curso para monitores – algo que Steve não pensou na parte 1. O dono quer que os jovens estejam preparados para lidar com crianças (e, provavelmente, evitar tragédias como a de 1957).
Quando o carro estaciona, conhecemos Sandra e Jeff e revemos Ralph, o velho “louco” do primeiro filme. Sabemos agora que de louco ele não tem nada… Enquanto Jeff liga de um telefone público para pegar as coordenadas exatas do acampamento, Ralph se aproxima e repete a ladainha sobre todos estarem condenados. Mais uma vez, os jovens não lhe dão ouvidos.
Enquanto conversam ao telefone, um guincho reboca o carro do casal. Uma cena um tanto desnecessária, mas que ajuda a “esfriar o corpo” da descarga que sofremos ao ver a morte de Alice. Ou, talvez, seja só pra encher o roteiro mesmo. Lembram das palhaçadas do Ned no outro filme? Enfim, logo descobrimos que o mandante do reboque é Ted, amigo de Sandra e Jeff. Eles seguem juntos até o acampamento comandado por Paul, que está ministrando as aulas.
Esta primeira incursão por Crystal Lake nos faz perceber outro detalhe: a cidade lembra pouquíssimo a do primeiro filme. Sabemos que, em toda a série, muitas cidades e acampamentos – além de cenários em estúdio – foram usados para dar vida a Crystal Lake, mas uma coisa assombrosa – e que se repete em A Hora do Pesadelo – é que os produtores nem tentaram disfarçar que não se trata da mesma cidade. Quer dizer, um ou outro ponto é parecido, mas mesmo um espectador mais desatento consegue ver que são locais diferentes. O elo entre um filme e outro acaba sendo mesmo alguns personagens, como Alice e Ralph nos dois primeiros filmes e Tommy nas partes 4, 5 e 6. Nem mesmo cenários recorrentes como a lanchonete do centro da cidade e a delegacia são a mesma. Tudo bem que uma cidade e um edifício mudam de acordo com o tempo, mas as mudanças em Crystal Lake são tão assombrosas quanto a quantidade de ressurreição de Jason (outro que vai se modificar bastante ao longo dos filmes).
No caminho, eles param para remover um galho da estrada e Sandra acha uma placa de Crystal Lake. Ted diz que o local é conhecido como Acampamento de Sangue e que fica no mesmo lago em que eles ficarão, mas que não gostariam de conhecer a história antes do almoço. Os três seguem adiante e alguém os observa por trás das árvores.
No acampamento, Paul reúne todo mundo para uma reunião: aqui, vemos um grupo bem estereotipado de jovens, que se tornaria marca deste filme, dos demais da série e de diversas outras produções do gênero. Tem o cara ligado em jogos eletrônicos, a moça que está a fim de dar uns amassos num gatinho, a outra que leva um cachorro pra todo canto, um idiota que se faz de playboy e, pasmem, acerta uma pedra com um estilingue nas nádegas de uma moça que usa roupas curtíssimas, etc. Há um personagem interessante nesta sequência: um cadeirante que ficou paralítico após um acidente de moto. Vamos falar dele mais adiante.
Na reunião, Paul passa instruções gerais para os alunos. Na estrada, um fusca vermelho passa por Ralph, que segue de bicicleta. Ginny chega ao acampamento e rola um “climão” entre ela e Paul. Logo descobrimos que, além de sua assistente, ela também é namorada do coordenador do lugar.
À noite, Paul conta a todos os monitores a história de Jason e sua mãe, Pamela. É nesta cena que ficamos sabendo em que época estamos: Pamela morreu em 13 de junho de 1980, Alice morreu dois meses depois e se passaram cinco anos. Embora não nos seja informada a data real, mas considerando a mitologia inicial da série (em que o assassino mata numa sexta-feira 13), temos duas opções: setembro e dezembro de 1985. Após resumir os fatos ocorridos no primeiro filme (que já havia sido resumido pra gente nos flashbacks de Alice), Paul avisa que nenhum dos monitores deve ir até o local em que ficava o Acampamento Crystal Lake.
Temos, então, longos minutos apenas de interação jovem: uns disputam queda de braço, outros dançam, fumam, enfim… Uma pequena confraternização antes de os trabalhos realmente começarem. O problema é que são muitos jovens e nem conseguimos decorar todos os nomes. Muitos, só ficamos conhecendo na hora da morte. Ainda assim, Sexta-Feira 13 – Parte 2 não soa tão exagerado quanto outras sequências.
Ralph circula pelo acampamento e flagra Ginny e Paul namorando na cabana da moça. Ele encosta em uma árvore e é assassinado. Pronto! Acabaram os personagens do filme original…
No dia seguinte, aparentemente uma sexta-feira 13, os jovens se dividem e realizam várias tarefas e treinamentos. Há uma cena curiosa que envolve Muffin, a cachorrinha de uma das monitoras: ela se perde do grupo, entra no mato e dá de cara com um homem. A certa corta para uma churrasqueira com várias salsichas! Terry a procura, mas é chamada para o almoço. O tempo todo, a câmera faz um jogo de “gato e rato”, levando o espectador a tentar adivinhar quem está vigiando os jovens e onde ele está no momento. O mesmo já havia acontecido no primeiro filme e, claro, em Halloween (1978), que inspirou essa nova leva de produções…
Curiosamente, Sexta-Feira 13 – Parte 2 e Halloween 2 foram lançados no mesmo ano: 1981 e ambos acrescentam novos dados à mitologia dos seus personagens principais. Aqui, sabemos que Jason está vivo e vai se vingar pela morte da mãe; em Halloween 2; descobrimos que Laurie e Michael são irmãos…
Por volta da hora do almoço, os jovens resolvem curtir o lago – algo semelhante ao que aconteceu na primeira parte. É quando Sandra tem a “brilhante” ideia de ir conhecer o antigo Acampamento e leva Jeff junto.
No caminho, eles encontram o que parece ser um cachorro destroçado. Seria a Muffin? Eles olham para o animal e são surpreendidos pela polícia, que os leva de volta ao centro de treinamento.
O policial volta à cidade, mas é surpreendido no meio do caminho por um homem que atravessa a estrada correndo e entra no mato. Ao segui-lo, o policial encontra uma cabana de materiais velhos. Lá dentro, ele percebe que o homem leva uma vida “razoavelmente civilizada”: tem banheiro, cômodos e uma pequena sala que espanta nosso “homem da lei”. Não vemos, ainda, o conteúdo desta sala. Quando o policial fica boquiaberto com sua descoberta, alguém aparece por trás e lhe dá uma martelada na cabeça!
Sutileza não é uma das características do Jason.
A noite chega e Paul resolve chamar os jovens para uma noitada na cidade. Segundo ele, a última noite de diversão antes do trabalho realmente ficar pesado. No entanto, como são apenas dois carros, muitos terão que ficar no acampamento. Por causa da fuga de mais cedo, Jeff e Sandra são forçados a ficar, mesmo Jeff sendo dono de um dos automóveis. Terry sai para caminhar (e ver se acha Muffin) e os demais de dividem em jogos e danças (tal qual na noite anterior).
Ela vai até a margem do lago e, como não há ninguém por perto, tira a roupa e vai nadar pelada. Melhor ideia para se ter em um filme de terror, não é? Bem, acontece que além de Jason, Terry tem outro problema em sua vida: Scott, o idiota playboy com estilingue que falei lá no começo. Ele, simplesmente, pega as roupas dela na beira do lago, fazendo com que ela corra nua margem acima. Só que Scott não contava com uma armadilha para urso que o deixa pendurado de cabeça para baixo numa árvore (Parece cena de desenho animado, né?)! Terry vai em busca de algo para cortar a corda e salvar o “amigo”. É quando alguém aparece e corta o pescoço de Scott!
A cena aqui é engraçada: o cara está pendurado de cabeça para baixo, pedindo socorro para Terry que ainda não voltou para salvá-lo. O assassino aparece empunhando um facão e Scott, obviamente, fica estarrecido. E o que tem de engraçado nisso? É que o assassino “corta” o pescoço de Scott com as costas do facão! Descuido da produção, erro de continuidade, erro do ator? Enfim, Jason é o tipo de assassino que faz “maravilhas” com armas improvisadas, então um facão cego – ou as costas de um facão – não seria um empecilho para nosso vilão-mor!
Terry volta para salvar Scott e percebe que ele foi assassinado. Em desespero, a moça grita, vira-se e dá de cara com o assassino. Corta pra cidade, onde os demais jovens curtem a noite. Entre uma bebida e outra, Ginny aventa a possibilidade de Jason ser real e não apenas uma lenda como dizem. E ela o descreve até bem: “Ele seria um psicopata descontrolado? Uma criança presa num corpo de adulto?” Enfim, ela traça as características do que viríamos a conhecer como “Jason”.
Paralelamente a isso tudo, na cabana principal do acampamento de treino, Mark (o garoto na cadeira de rodas) brinca com os jogos eletrônicos de Ted, apostando com Vickie quem faz uma pontuação maior. Ironicamente, eles escolhem um jogo de hóquei. Seria uma premonição do que veríamos a partir da parte 3?
A moça resolve buscar algumas coisas em sua cabana antes de os dois fazerem sexo e ele fica esperando na casa principal. Temos aqui uma ceninha boba, só para encher o roteiro mesmo: Vickie entra na cabana, troca a camisa por um suéter de lã (gente, ela já não ia transar mesmo? Pra que complicar as coisas?), vai até o espelho, tira uma calcinha preta e veste uma violeta (bem menos sexy que a primeira, diga-se de passagem), passa perfume em várias partes do corpo (pensa um pouco e joga um pouco de perfume “lá embaixo”), ajeita os cabelos, percebe que está faltando alguma coisa (seria a calça, já que ela está só de calcinha e suéter?), corre até o carro… Opa! Não eram apenas “dois carros”? O fusca de Ginny e a caminhonete de Jeff? De onde saiu esse terceiro carro? Enfim, vai até o carro (só de calcinha e suéter, vale ressaltar), procura e pega… Uma escova de cabelos! Sério, pra quê essa enrolação toda? Quero dizer, ela já ia lá pra cima fazer sexo com o Mark, pra que tanto apetrecho, tanta enrolação? A aposta é que… O roteiro precisava de algo que o sustentasse pelos quase 90 minutos de exibição! Só assim pra explicar tanta cena sem sentido.
Enfim, Vickie sai do carro com a escova na mão e começa a chover. Mark sai em sua procura e leva um golpe de facão no meio da testa. Sua cadeira começa a descer uma longa escadaria até a beira do lago. A cena é realmente muito boa e consegue nos dar um susto. Pena que para chegar até lá, temos que ver a já citada odisseia da Vickie. Seria mais legal se, as cenas alternassem entre ela e o rapaz, aumentando o suspense do que aconteceria a ambos.
Saímos do assassinato de Mark e vamos para a cena de sexo entre Jeff e Sandra, algo que também nos remete à parte 1. Os dois estão na cama, transando e os espectadores ganham mais alguns segundos de nudez para desanuviar a tensão da morte anterior. Acompanhamos os passos daquele homem misterioso que entra na casa, para perto da escada e pega uma lança que havia sido usada por Ted na noite anterior durante uma brincadeira encenada com Paul. O curioso é que na cena em questão, Ted usa uma máscara que depois deposita sobre a lança. Quando Jason pega a arma, a máscara ainda está lá, mas ele a rejeita. O homem entra no quarto e não há tempo nem para Sandra gritar. Ele espeta a lança nas costas de Jeff, atravessando o corpo do rapaz e atingindo a moça.
Voltamos a acompanhar o que acontece na cidade, com os que saíram para se divertir. Enquanto Ted e os outros monitores resolvem estender a noite, Ginny e Paul voltam para o acampamento.
Enquanto isso, Vickie procura por Mark (sério, só agora ela deve ter lembrado que eles iriam fazer sexo!). A moça não o acha em lugar nenhum e sobe as escadas da cabana principal. Chama à porta do quarto em que Jeff e Sandra estão e, como não há resposta, abre a porta e entra no recinto. Pergunta: qual a necessidade que ela tem de fazer isso? Ela sabia que os dois estavam lá namorando (leia-se “transando” mesmo). Tecnicamente, é o mesmo que ela e Mark deveriam estar fazendo (se ela não tivesse desperdiçado tanto tempo embromando lá embaixo). Enfim, ao ver que ninguém respondeu ao chamado, ela deveria ter descido as escadas e ido pra sua cabana. Ponto! Não, a mocinha resolve entrar e xeretar na cama, mesmo ao ver que sua amiga está lá, “dormindo”. Isso tudo é tara de ver o casalzinho pelado num momento de intimidade, minha filha? Pois bem, tanta curiosidade, faz com que ela se dê mal! Realmente, Sandra estava lá, peladona na cama, mas ao seu lado não estava Jeff. Ao se aproximar do emaranhado de lençóis, para surpresa de Vickie, quem se levanta é Jason! Ela dá um grito (óbvio, né?) e começa a se afastar de costas, até dar uma trombada no corpo de Jeff, pendurado pelo pescoço dentro do armário!
Jason se levanta e, desta vez, o vemos de corpo inteiro: um homenzarrão usando um saco na cabeça. Há apenas um buraco no saco, pois ele seria cego de um dos olhos. Jason empunha uma faca e começa a se aproximar de Vickie que encosta na parede do armário, leva a mão ao rosto e apenas repete “Não! Não! Não!”. Uma facada em sua perna libera um pouco de sangue, o assassino continua se aproximando e crava a faca em seu corpo.
A cena é até bem construída. Desde o momento em que Vickie vê Jason na cama até o momento da facada final, há um boa dose de tensão. Legal também é o efeito da câmera que desfoca o rosto da moça para dar destaque à faca e, depois, volta a focar no rosto horrorizado. Uma boa construção de uma cena de assassinato, que garante um bom momento no cinema de terror.
Após a morte de Vickie, voltamos a acompanhar Ginny e Paul voltando para o acampamento debaixo da chuva. Na cabana, Jason arrasta o corpo de Vickie escada abaixo. Ginny entra na casa, sobe até o quarto e vê a cama suja de sangue. Ela e Paul não encontram nenhum dos corpos. Assustados e sem entender o que acontece no local, eles descem as escadas e começam a examinar o lugar. É quando Jason emerge das sombras da sala e ataca Paul. A partir daqui, é a mesma sucessão de gritos e sustos que acompanhamos na primeira parte, após Alice descobrir o corpo de Bill. A cada canto que olham, Paul e Ginny dão de cara com um cadáver ou com Jason empunhando uma arma para matá-los. Uma deliciosa aventura sanguinolenta que merece ser assistida com o volume da TV alto para ressaltar a trilha sonora. Como diz o narrador da TV Globo quando o filme foi exibido na década de 1980: “uma noite de horror e morte! Jovens vítimas de um pesadelo sangrento”. É bem isso! Ginny corre até seu fusca e Jason a segue. É uma cena um tanto quanto claustrofóbica: A moça presa no diminuto carro e o assassino atacando por todos os lados. Ela escapa do carro e se esconde atrás de uma moita. Quando ele se aproxima, ela consegue acertá-lo bem nos “países baixos”. Aliás, nesta primeira continuação de Sexta-Feira 13, temos um Jason tremendamente “humano”, por mais incrível que isso possa parecer. Como já foi dito, ele mora num casebre no meio do mato que tem até banheiro! Sente dor, vide o chute no saco que acabei de narrar e outras particularidades que ainda serão mostradas. Sigamos com a fuga de Ginny, mata adentro.
Ela encontra o carro que Vickie usou (aquele terceiro carro não listado no começo), mas as portas estão trancadas, de modo que o único meio de escapar é mesmo se embrenhar no mato. Aliás, por que não pegar a estrada que leva ao acampamento e tentar chegar à cidade? Personagens de filmes sempre escolhem o pior caminho…
O problema é que, assustada, Ginny não sabe para onde seguir e volta para uma das cabanas do acampamento, escondendo-se embaixo da cama. Nessa cena, vemos novamente o lado “humano” de Jason. Quando Ginny sai de debaixo da cama, o assassino tenta atacá-la com um garfo de jardinagem, mas a cadeira em que ele está quebra, derrubando-o no chão! Coisas assim seriam impensáveis nas próximas sequências, onde Jason apenas aparece, mata e vai embora sem remorso, sem “planinhos” para apanhar suas vítimas e, claro, sem contratempos como esse da cadeira ou aquele do chute…
Ginny resolve que não dá apenas para fugir e contar com a sorte e passa a contra-atacar Jason. Munida de uma motosserra, ela parte com tudo pra cima do vilão, depois quebra uma cadeira em suas costas e foge, indo encontrar nada mais, nada menos, que a cabana do próprio assassino no meio do matagal! Baita falta de sorte, hein?
Essa cena guarda, além do grande segredo do filme, outro momento curto, mas realmente bem filmado: assim que entra no casebre, Ginny olha horrorizada em volta. Neste momento, vemos o vulto de Jason se aproximando pela pequena janela e, até que Ginny perceba o perigo, conseguimos ficar bem tensos na cadeira ou no sofá!
Ginny, após ver Jason, corre e se esconde em um dos cômodos da cabana. É então que descobrimos, entre vários corpos espalhados pelo chão, um altar em que a cabeça de Pamela Voorhees é preservada e venerada por seu filho! Se você não levar um susto, ou pelo menos sentir um desconforto, quando vir essa cena pela primeira vez, deve ser porque já morreu, provavelmente como uma das vítimas do Jason. Explico: Hoje, passados quarenta anos do lançamento do primeiro filme (e 39 deste segundo), e para quem, assim como eu, já viu e reviu dezenas de vezes os longas, a cena é casual, mas da primeira vez em que assistimos é realmente impactante ver aquela cabeça no centro de um altar improvisado.
Mas Jason continua forçando a porta e Ginny tem a única ideia plausível no momento: ela pega o suéter de Pamela e o veste. Quando Jason entra no recinto, ela conversa com ele como se fosse sua mãe. Ao se aproximar dela, Jason se mostra indefeso, impotente perante à figura maternal. Será que Freud explica? Pelo sim, pelo não, Ginny já havia decidido exterminar Jason, mas no momento em que levará a cabo seu plano, o assassino vê a cabeça de sua mãe atrás da moça e percebe que está sendo enganado. Pobre Ginny! Leva um golpe de picareta (onde será que Jason guarda tantas armas?) na perna. Mais sangue jorra pela tela, para deleite dos espectadores mais sádicos.
Paul aparece (onde é que esse infeliz se meteu durante todo esse tempo?) e se atraca com Jason! Enquanto eles brigam, Ginny pega o facão e acerta o pescoço do vilão. Outro momento “humanidade” aqui: enquanto cai, Jason revira o olho, demonstrando uma tremenda dor por causa do golpe.
Então, Paul e Ginny tiram o capuz que Jason usa e, em seguida, voltam para o acampamento. Lá, enquanto fazem os primeiros socorros um no outro, ouvem um barulho e Paul vai averiguar. Ao abrir a porta, dá de cara com Muffin, a cachorrinha desaparecida lá no começo do filme! Quando Ginny se levanta para pegar o animal, Jason quebra a janela e a agarra. Sem o saco na cabeça, vemos o quanto ele é horrendo: rosto deformado, uma cabeleira espessa e um olhar de louco!
A cena em câmera lenta deixa as coisas mais tensas ainda. Ginny, então, acorda em uma maca gritando por Paul. O que nos leva a duas conclusões possíveis. Primeira: Ginny e Paul foram atacados na cabana de Jason e apenas a moça sobreviveu, sendo todo o resto imaginação dela, tal qual acontecera à Alice na cena do lago no primeiro filme. Segunda: Ginny e Paul se safaram da cabana e tudo o que aconteceu depois, aconteceu mesmo, mas quando Jason a atacou, Paul a salvou novamente e acabou morrendo ali, sendo a moça a única resgatada daquela matança. O fato é que, depois dessa série de gritos e assassinatos, entram os créditos finais e podemos descansar um pouco. Pelo menos até a parte 3…
Analisando…
Considerada por muitos como uma excelente sequência (alguns até dizem ser esta melhor que a parte um), Sexta-Feira 13 – Parte 2 é, realmente, um filme muito bem feito, apesar de problemas estruturais que o fazem perder um pouco da qualidade. Pra começar, o roteiro parece ser mais adequado a um filme de 70 minutos, no máximo. E isso fica evidente quando percebemos que cerca de 10 minutos são apenas de resumo do primeiro filme. Depois, temos as cenas desnecessárias como a citada da Vickie se arrumando para uma noite de sexo que jamais aconteceria. É claro que não dá pra encher a tela de um filme de terror apenas com assassinatos, mas um pouco de histórias interessantes para os personagens não faria nenhum mal. Temos o Ted, que repete o tipo do Ned (do primeiro filme) e faz brincadeiras sem graça a cada cinco minutos. Temos o Jeff e a Sandra que não acrescentam quase nada à história e, finalmente, temos o Scott e a Terry que, realmente, não acrescentam nada à história. Até mesmo o personagem Ralph só aparece em três cenas e só tem fala em uma delas. Teria sido interessante, em vez de despachar vários jovens (que nem nomes têm) para o centro da cidade, deixar o elenco mais enxuto, fazendo-nos conhecê-los melhor e, finalmente, matá-los.
Uma diferença entre a primeira parte e esta é que, ao contrário do filme original, fica difícil saber onde começa e termina cada “ato” desta sequência. Podemos dizer que o ato final começa no momento em que Ginny e Paul chegam à cabana principal e Jason os ataca, pois a partir daí temos aquela queda livre da montanha-russa. Antes disso, porém, o filme segue seus altos e baixos sem, no entanto, momentos de mini-clímax, como no antecessor.
Um outro ponto a ser destacado é que, embora seja uma sequência, Sexta-Feira 13 – Parte 2 copia descaradamente várias passagens do primeiro filme (mais uma prova do roteiro vazio). Já falamos do Ted, cópia do Ned, mas além dele, algumas cenas são bem “chupadas” do anterior, como quando Ginny fica presa em um quarto enquanto Jason força a porta. Bem como quando Jason empala Jeff e Sandra na cama… Enfim, algumas referências voltarão depois, em outras sequências.
O fato é que o filme possui tudo o que se espera de um exemplar de terror slasher dos anos 1980: muito sangue, corpos nus, história de fácil entendimento, afinal, nem todo mundo é louco pra pensar nos detalhes que deturpam a mitologia original da série como feito neste artigo e, claro, deixa a brecha para uma nova continuação, já que possui esse final ambíguo descrito acima. Em comparação com o original, temos muito mais corpos femininos em cenas sensuais. Lembram que lá atrás eu falei que em Sexta-Feira 13 as mulheres demoravam a tirar a roupa, enquanto os rapazes apareciam sem camisa desde o começo? Pois é, aqui é o oposto: Temos a Terry, nua, nadando no lago à noite. A Vickie se despindo em frente ao espelho enquanto se prepara para encontrar Mark e, claro, Sandra transando com Jeff. Em relação ao homens, além da cena de Jeff e Sandra, apenas no momento em que estão se banhando no lago é que os vemos com pouca roupa.
Em geral, no entanto, Sexta-Feira 13 – Parte 2 é um bom filme, que tem seus méritos e é agradavelmente fluido de assistir. Conhecemos um pouco mais sobre a história do assassino do Crystal Lake e esperamos ansiosamente por mais um capítulo. É claro, porém, que a Paramount não pensava em só mais um capítulo. E começava, assim, uma longa lista de sequências em que, basicamente, mudavam os nomes dos personagens e cuja criatividade foi deixada de lado em nome de apenas mais um pouco de matança. Mas eram os anos 1980… Quem se incomodaria com isso?
Ficha Técnica:
Título original: Friday the 13th Part 2
Elenco:
Amy Stell – Ginny
John Furey – Paul
Adrienne King – Alice
Kirsten Baker – Terry
Stu Charno – Ted
Warrington Gillette – Jason Voorhess
Marta Kober – Sandra
Tom McBride – Mark
Bill Randolph – Jeff
Lauren-Marie Taylor – Vickie
Russell Todd – Scott
Betsy Palmer – Pamela Voorhees
Walt Gorney – Ralph (o louco)
Cliff Cudney – Max
Jack Marks – Policial
Steve Daskawicz – Dublê do Jason
***
Responsável pela maquiagem e efeitos especiais: Carl Fullerton
Diretor de fotografia: Peter Stein
Música de Harry Manfredini
Editora: Susan E. Cunningham
Escrito por Ron Kurz baseado nos personagens criados por Victor Miller
Produzido e dirigido por Steve Miner
Lançamento:
01/05/1981 (EUA)
26/04/1982 (BRA)
Orçamento: U$1.250.000
Renda: + de U$21 milhões
Duração: 87 minutos
***
Curiosidades:
-> Adrienne King reprisa seu papel neste filme. O motivo de sua participação ter sido curta é alvo de controvérsia: algumas fontes afirmam que ela passou a ser perseguida por um fã, por isso, pediu que seu papel fosse menor. Outras fontes indicam que seu agente teria pedido um salário alto e o estúdio se recusou. Seja como for, ela morre aos 10 minutos.
-> Como o primeiro filme, Sexta-Feira 13 – Parte 2 não agradou de cara os críticos, mas aos poucos se tornou cult, angariando uma legião de fãs.
-> Inicialmente, os produtores pensaram em fazer uma série de filmes com o título Sexta-Feira 13, mas sem elo entre eles. No entanto, alguns insistiram que a figura de Jason fosse inserida e explorada neste filme. Ele acabou se tornando o astro da série.
-> Estreou no mesmo ano que várias sequências de terror, entre elas Halloween II e A Profecia III – O Conflito Final.
-> Primeiro filme da franquia a ser exibido na TV aberta brasileira. Sua primeira exibição ocorreu no domingo, 21 de março de 1987 em Domingo Maior (Rede Globo).
-> 10 personagens morrem no filme. Jason também é dado como morto, mas volta à vida na parte 3.

Um comentário em “Lembranças do inferno: Uma longa análise de “Sexta-Feira 13” e “A Hora do Pesadelo””