Projeto Lumi

O cinema, a religião e a pandemia

Perfil coluna
Antônio Pedro de Souza

      Há uma cena em Superman II (1981) em que Clark Kent e Lois Lane fazem uma matéria sobre os hotéis nas Cataratas do Niágara e, para passar veracidade, precisam se hospedar como recém-casados. Durante um passeio pelo cartão postal, Clark sugere que eles deem as mãos e Lois, após segurar a mão do amigo, diz: “Sabe por que estão todos de mãos dadas? Porque se largarem, vão direto ao juiz pedir o divórcio.”

            Escolhi essa cena para iniciar a minha coluna desta semana porque gostaria de abrir uma reflexão sobre o momento em que estamos vivendo: a pandemia do coronavírus e, em como as pessoas precisam (ou acham que precisam) de algo palpável para manter suas crenças ou tradições.

            Fui criado em uma família católica e acredito em Deus, nos santos e nos rituais existentes dentro da minha fé, bem como respeito a fé alheia. Dentro da religião católica, fui batizado, fiz primeira comunhão e o crisma. Hoje, no entanto, as igrejas estão fechadas devido ao alto risco de contágio pelo coronavírus.

            O Vaticano, centro da Igreja Católica Apóstólica Romana, fechou suas portas físicas ao público e os demais templos religiosos ao redor do mundo fizeram o mesmo. A opção foi aliar a tecnologia à fé: Missas passaram a ser exibidas pela internet, via redes sociais e canais no Youtube. Vale ressaltar que a TV e o rádio já transmitiam regularmente as celebrações religiosas.

            No entanto, nas últimas semanas, cresceu o número de fiéis, católicos e protestantes, que passaram a pedir a abertura dos templos físicos, mesmo em meio à pandemia. Por mais que se tomem cuidados, sabemos que esse momento ainda é delicado para se juntar pessoas em um espaço confinado. Algumas cidades determinaram não mais que trinta pessoas ocupem o interior de uma igreja e que os eventos religiosos – cultos ou missas – não ultrapasse os trinta minutos. Sabemos, porém, que essa não será a realidade, caso as casas de oração sejam abertas nesse momento: muitas igrejas são pequenas e, ao receberem 20, 30 pessoas, não as comportarão com o mínimo de distância exigida, bem como não há um rito religioso que ocupe um tempo menor que 30 minutos.

            Além de pedirem a reabertura, algumas designações religiosas têm provocado encontros nas ruas, orações coletivas em frente às igrejas fechadas, causando aglomerações desnecessárias e muito nocivas, cujo risco de contaminação é altíssimo.

            É claro que, como cristão, sinto falta do contato humano, da comunhão presencial, das missas de domingo, dos cantos de louvor, mas ainda é cedo – e potencialmente perigoso – pedirmos a reabertura dos templos agora. Os padres e pastores responsáveis estão celebrando à distância, disponibilizando os ritos religiosos nas diversas plataformas tecnológicas. E, é como disse um líder religioso: o coronavírus não fez com que as igrejas se fechassem, mas abriu uma nova igreja em cada casa.

            Este é o momento de nos mantermos afastados fisicamente, mas unidos espiritual e mentalmente. Façamos nossas orações pessoais, acompanhemos as celebrações à distância. Deus não está apenas nos templos físicos, mas dentro de cada um de nós, em nossas casas, em nossas famílias.

            Quem pede ou apoia a reabertura imediata dos templos, não tem a verdadeira consciência cristã e está mais preocupado em satisfazer seu ego pessoal. Acha que é mais importante ser visto pelas ruas empunhando Bíblias do que reservar uns minutos de oração diária no interior de seu quarto. Há, inclusive, uma passagem da Bíblia sobre isso.

            Não sejamos como os casais do filme citado no começo dessa coluna, que precisam sempre andar de mãos dadas para não se divorciarem, mas sim, levemos Deus conosco em nosso íntimo. Uma hora a pandemia passa e poderemos voltar a nos ver, nos abraçar, confraternizar nos templos. Por enquanto, façamos templos em nossas casas – apenas com as pessoas que nela habitam.

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