Crítica: O Último Episódio

Pedro Salomé

Aqueles que acompanham o cinema nacional de perto, com certeza já ouviram falar da produtora mineira Filmes de Plástico. Fundada pelos amigos André Novais Oliveira, Gabriel Martins, Maurilio Martins (não, eles não têm parentesco) e Thiago Macêdo Correia, eles têm mudado o cenário audiovisual não só no estado mas no país todo. Nos seus 15 anos de existência eles já conquistaram diversos prêmios importantes do cinema como no festival de Rotterdam e o grande prêmio do cinema Brasileiro, além de ter um filme escolhido para representar o Brasil no Oscar, o excelente Marte Um, dirigido por Gabriel Martins. A visibilidade que esse fato trouxe para a produtora abriu diversas portas, Gabriel Martins está produzindo um filme para Netflix, e além disso, eles puderam fundar sua distribuidora, Malute Filmes, e é ela que distribui o maior projeto deles até então, O Último Episódio. Na periferia de Contagem, nos anos 90, acompanhamos Erik (Mateus Sampaio), um menino de 13 anos que um dia, enquanto matava aula, conhece a nova aluna, Sheila, enquanto tenta puxar assunto com a menina nem um pouco interessada nele, percebe um desenho no gesso de seu braço quebrado, é o unicórnio do desenho Caverna do Dragão, e então surge a ideia para conquistá-la, falar que ele possui o mítico último episódio da animação numa fita e convidá-la para sua casa para assistir. Mas existe um problema, A Caverna do Dragão não tem último episódio, nunca teve, então cabe a Erik, junto de seus dois amigos Cassinho (Daniel Victor),um jovem com talentos musicais de uma família extremamente cristã e Cristiane, mais conhecida como Cristão,(Tatiane Costa), uma menina que mora com a avó e é obcecada com a música “Doce Mel”. Eles não são as crianças mais populares da escola, mas tem uns aos outros, e juntos cabem a eles criarem o último episódio utilizando a câmera do falecido pai de Erik. O elenco mirim do filme é impecável, do trio principal, apenas Mateus tinha outros trabalhos como ator, mas todos conseguem representar muito bem a vida e os sentimentos de uma época tão diferente da que vivem agora, a juventude nunca muda. O filme é uma carta de amor a diversas coisas da vida do diretor Maurílio Martins, sua juventude, seu bairro, sua família. O bairro Laguna é gravado com um carinho imenso, com o olhar de “conhecedor” que só alguém que nasceu, cresceu e vive lá até hoje poderia ter, a casa do nosso protagonista, Erik, curiosamente fica na mesma rua onde Maurílio vive atualmente, sua casa atual e outras casas da rua tiveram que ser removidas digitalmente devido às diferenças arquitetônicas entre as épocas. Mas o efeito é invisível, e juntamente de imagens de arquivo, que são do arquivo pessoal do diretor, podemos ver como o Laguna era de fato em 1991, e o esmero que tiveram com a seleção e decoração dos lugares utilizados no filmes fazem parecer que aquele cantinho de contagem ficou parado no tempo. O próprio diretor e sua família aparecem nessas imagens de arquivo, uma forma de homenagear aqueles que sempre estiveram com ele. Outro aspecto do filme que trás este mesmo sentimento é a direção de arte, figurino, cenários e objetos são de uma precisão “histórica” incrível, na coletiva de imprensa após a exibição do filme, o diretor explicou que muitos dos objetos faziam
parte de seu acervo, mas embalagens, camiseta e produtos em geral tiveram que ser

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