Crítica: Bom Menino

Pedro Salomé

Quando era pequeno, tinha a convicção de cachorros conseguiam ver espíritos, quando me encontrava com outras crianças que naturalmente, compartilhavam dessa crença, histórias circulavam de cachorros da família que sempre latiam para as paredes, ou que todos os dias num mesmo horário ficavam agitados e começavam a latir para um alvo que nós humanos não conseguíamos enxergar. Para mim essas histórias eram provas cabais do fato que é premissa de “Bom Menino” (Good Boy), cachorros de fato veem algo que nós não vemos, e esse algo pode querer nosso mal.

Indy, um belíssimo Retriever vive com Todd, seu humano, que de repente sofre um grave problema de saúde, e tem que ficar internado por algum tempo, após se recuperar e receber alta, ele decide se mudar para a zona rural na antiga casa de seu Avô, propriedade que segundo sua irmã, Vera, é mal-assombrada.

O cão, desde que seu dono teve o problema de saúde, tem percebido coisas estranhas ao seu redor. Tem observado vultos e figuras malignas sempre perseguindo Todd, embora ele próprio não perceba, e não é diferente agora, Indy precisa descobrir como proteger seu dono enquanto luta contra o desconhecido.

A premissa do filme é extremamente simples, o grande diferencial é sua execução, o filme é feito da perspectiva canina. Sempre acompanhamos Indy por onde ele anda, acompanhamos seu olhar, seu faro, e vemos os detalhes que os humanos não conseguem ver. A atuação do cachorro, que também se chama Indy na vida real, é surpreendente, a quantidade de emoção que conseguem extrair dele é incrível, devido ao baixo orçamento do filme (750 mil Dólares, valor ínfimo comparado com as mega-produções Hollywoodianas), pouquíssimo CGI foi utilizado durante a produção, e o diretor garante, nenhum foi utilizado para melhorar a performance canina. Tudo foi fruto de um excelente trabalho de montagem e muito trabalho na hora de gravar.

Infelizmente não é só de atuação canina que o filme se sustenta. Embora seja impressionante por 15 minutos, o filme de 76 minutos, não consegue manter potência máxima durante toda sua duração, é a escolha de dar preferência a perspectiva do cão acaba trabalhando contra ele, que fica repetitivo e monótono ao não ter outra forma de avançar a narrativa a não ser as chamadas telefônicas que Todd tem com sua irmã, ou fitas VHS gravadas por seu avô, encontradas por Todd.

O Clímax do filme também é decepcionante, o momento em que o potencial da escolha de perspectiva poderia ser aproveitado ao máximo, utilizando da agilidade dos cães para criar uma sequência de ação interessante, é desperdiçado em troca de soluções narrativas fraquíssimas.

Apesar de cativar muito em seu primeiro ato, o filme não consegue entregar tudo que promete. Nadou de cachorrinho, e morreu na praia.

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