“Telefone Preto 2” (Black Phone 2, 2025, Scott Derrickson) busca transformar o longa isolado, baseado num curto conto de Joe Hill, numa franquia de slasher. “O Telefone Preto” (The Black Phone, 2021, Scott Derrickson) não era um filme que parecia apontar para esse lado, por mais que o Sequestrador (Ethan Hawke) tinha toda a cara de vilão icônico de terror, o tema era sério e o filme lidava com isso certa solenidade.
Essa sequência precisa percorrer um chão para recontextualizar certos personagens e elementos desse mundo de forma que sua mitologia gere abertura para existência dessa nova narrativa. Isso não é incomum em slashers oitentistas e, nesse sentido, “Telefone Preto 2” mantém o charme pastiche do anterior. É um longa que tem conforto em se escorar em algumas lógicas do gênero, mas que também não se mantém como um mero exercício de nostalgia.
As sequências gravadas em Super 8 representam bem essa dinâmica. Poderia ser só um elemento nostálgico, mas o diretor Scott Derrickson usa da película de forma muito específica, gravando as sequências de sonho de Gwen (Madeline McGraw). Ele usa textura, granulação e cores da película para criar uma desconexão do real e gerar uma sensibilidade específica para as sequências. O trabalho sonoro, criando um ambiente de arranhões e eco, também reforça a dinâmica onírica assombrada. Os momentos remetem a um filme antigo, mal gravado e mixado, que por si só, já carrega um onirismo.
Em “Telefone Preto 2”, Finney (Mason Thames), agora mais velho lida com as consequências de seu sequestro no trabalho anterior. O menino age como se tivesse superado, mas ainda não fugiu do Sequestrador em sua mente. O vilão atormenta o menino, mesmo do túmulo. Após Gwen descobrir em seus sonhos uma relação entre o Sequestrador e a morte de sua mãe, os irmãos viajam para um acampamento Cristão tentando confrontar os segredos. O ambiente congelado e solitário é um bom espaço para o slasher sugestivo de Derrickson. É um espaço que tem memórias enterradas no gelo e parece impossível de transitar, isolando os personagens em seus quartos.
Porém, é uma pena que o primeiro trecho do filme seja tão sem rumo. Derrickson precisa reintroduzir o Sequestrador como presença espiritual e passa muito tempo num terror bem fraco pequenas entregas. Quando o filme de fato consegue explorar as novas capacidades do Sequestrador, que habita os sonhos de Gwen, o trabalho ganha força. Derrickson lida bem com conciliar duas dinâmicas de cena diferente – uma que existe na cabeça de Gwen e uma que existe no mundo de Finney. O sonho afeta e mutila a realidade.
Ainda similar ao anterior, é interessante como esse novo filme ainda mantém um afeto muito grande com seu aspecto de terror. Se, no filme anterior, eram os fantasmas das vitimas do Sequestrador que salvavam Finney, aqui é Finney que precisa salvar suas almas, que ficaram presas num limbo. Derrickson entende o lirismo do conceito, conseguindo imbuir uma forte melancolia nas suas sequências de suspense, fora um drama forte para Finney. Infelizmente, é um trabalho que também não tem muita classe para lidar com os elementos mais interessantes dos dramas de seus personagens. Recorre a grande sequência final onde os protagonistas gritam seus dramas e insatisfações um para o outro, parados no mesmo lugar. É uma verbalização do drama que só funciona na força das palavras dos personagens, mas parece condensar a potência de tudo o que foi dito – reduzindo a força da dor desses personagens, que parecia habitar o filme de forma visual.
