Crítica: ¨Ruídos¨

Vitor Damasceno

Este filme coreano se apresenta como um eficiente terror sobrenatural que usa os desafios do cotidiano sul-coreano como interessante artificio ao enredo, enriquecendo um filme cuja proposta principal não é discutir os problemas de moradia de uma cidade, mas os relacionamentos familiares sob a ótica tensa do horror.

Duas irmãs viviam juntas em um apartamento quando uma delas decide morar no alojamento de onde trabalha. Uma das irmãs desaparece abruptamente, quando então a outra irmã, Yeong, vai em sua busca iniciando uma jornada para tentar entender o que aconteceu. Nesse simples contexto, é introduzido uma serie de outras informações da realidade de Hee, a irmã desaparecida, mas não contribui para que possamos entender quem é ela, deixando sua personalidade mais misteriosa. 

Nos primeiros minutos de filme o tormento de Hee é apresentado com bom uso de recursos sonoros e uma montagem didática onde conseguimos entender o espaço que o conflito passa. E o espaço é um elemento narrativo importante não só para este filme, mas porque a Coreia do Sul passa por problemas que muitas outras metrópoles sofrem com a verticalização e aglomeramento populacional. 

Interessante que isso é introduzido sem que faça o filme ficar chato. Tudo bem, mesmo que o problema de convívio em condomínio seja universal, a realidade sul-coreana tem coisas que é só dela, e colocar isso em filme de terror pode ser mal interpretada no sentido de destoar. Mas não é o que parece. A medida que percebemos que os vizinhos de Hee podem ser mais complexos do que parece, fornece adubo para que reflitamos não só sobre um filme, mas sobre um problema real social. Os vizinhos reclamam de barulho e o problema é minimizado e escondido. O que é escondido vira uma bola de neve, aqui representado de forma bem inteligente como um depósito em que os moradores descartam alguns bens, transformando o espaço em um verdadeiro lixão. Essa enologia é bem pensada, mesmo que exagerada.

Ruídos é um filme eficiente porque quase tudo que nos é mostrado como imagem, som e enredo é formalmente bem construído. Nos primeiros minutos já conhecemos que o excessivo barulho de um morador incomoda vários outro vizinhos o que pode até escalar para um conflito físico. 

O problema, se é que assim pode ser dito como tal, é que a ação acontece sem que possamos entender mais quem são aquelas irmãs. E nos é vendido que a relação delas é importante e profunda. O desfecho, talvez entendido como repetido com o de outros do gênero, não contribui para esse conjunto de boas informações que foram colocadas: o problema de gestão de condomínios em Seul, a relação entre vizinhos em edifícios super populosos, o descaso de autoridades, o descaso da sociedade e principalmente, o descaso familiar. Opta-se pelo desfecho que é coerente com o gênero, mas perde-se a oportunidade de encerrar melhor um enredo bastante fértil.

Classificação indicativa: 16

Gênero:Terror, Suspense

Duração: 95 min

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