Desde suas primeiras obras como jovem prodígio, – “Jogada de Risco” (Hard Eight) e “Boogie Nights: Prazer sem limites” – até suas obras mais recentes como “Licorice Pizza” e “Trama fantasma” (Phantom Thread), o cinema de Paul Thomas Anderson tem uma temática central: seus filmes são sobre o encontro de duas forças, e o que sobra em seu rastro por onde passam. Em seu longa anterior, Licorice Pizza, conhecemos um jovem adolescente “pra frente”, maduro demais pra sua idade, e uma mulher adulta, imatura. O filme não tem uma linha narrativa tradicional, apenas assistimos como esses indivíduos tão diferentes lidam um com o outro e com o ambiente que os cercam. Isso também é verdade para a maioria de seus outros filmes, e seu novo longa “Uma batalha após a outra” (One Battle After Another), que chega aos cinemas no dia 25 de setembro, não é exceção.
Diferente de alguns de seus filmes antigos, Uma batalha após a outra, é menos um Hangout Movie, ou seja, uma narrativa que não é estruturada em começo, meio e fim, e é mais interessada em personagens e situações. A obra possui, sim, uma narrativa estruturada, que é raridade na filmografia de PTA, é executada com perfeição.
Acompanhamos um grupo de revolucionários nos EUA que se chamam French 75. Perfidia Beverly Hills (Teyana Taylor), é a líder do grupo, tem personalidade explosiva e vem de uma linhagem de revolucionários, ela conhece o tímido e focado especialista em explosivos do grupo, Ghetto Pat (Leonardo DiCaprio), e iniciam um intenso romance até que o Coronel Lockjaw (Sean Penn) consegue contato com Perfídia e faz um acordo que ela poderá continuar sua revolução e explodir o que quiser desde que ela se encontre com ele em um motel em segredo. Após algum tempo e depois de ter uma filha, ela começa a ter dúvidas sobre iniciar uma família com Pat e ainda prefere os French 75, até que um assalto a banco dá errado e ela é forçada a entregar seus companheiros para não ir presa.
Pode parecer que coisas demais da narrativa estão sendo reveladas agora, mas tudo isso acontece na primeira meia hora, de um filme com 2 horas e 40, e honestamente, sintetizar a trama do filme é uma tarefa quase impossível, a narrativa é tão densa e flui de forma tão natural, que eu não saberia dizer em que ponto os “spoilers” começariam, mas tudo dito até agora é apenas a construção para a trama principal.
Anos depois, Pat e sua filha, agora uma adolescente, vivem sob novas identidades em uma cidade diferente, e Milla (a estreante Chase Infiniti) não faz ideia do passado de seus pais. Mas tudo desmorona quando o Coronel Lockjaw consegue uma pista de sua localização e vai atrás dos dois para terminar o que começou.
O filme faz um excelente trabalho em contar essa história tão complexa de forma fluida e simples, as cenas seguem um ritmo imparável, vamos de uma locação para outra, conhecemos pessoas novas, pulamos de um núcleo narrativo para outro, tudo isso a mil por hora, mas sem perder a coesão ou ficar sobrecarregado de informações, o filme segue um ritmo semelhante a uma boa música Jazz, caótica e imprevisível às vezes, mas também muito bela, assim como a trilha sonora do filme, também um Jazz, que dita as emoções com perfeição e nos mantém tensos a todo momento. A escolha de músicas tocadas no filme é impecável também, grandes clássicos do Blues e RnB permeiam o longa.
Devemos falar dos atores também, em resumo, todos impecáveis: Teyana Taylor hipnotiza com sua intensidade e mistério, Chase Infiniti é bastante promissora, sua primeira performance em um longa metragem é excelente, e ela segura a barra atuando ao lado dos gigantes Leonardo DiCaprio e Sean Penn, que estão ambos inacreditáveis, mas Penn, está um nível acima, se transformou em um dos personagens mais asquerosos de sua carreira, e entrega tanto um aspecto de força inquebrável quanto de vulnerabilidade, minha atuação favorita no filme. Também compondo o núcleo principal temos Regina Hall, que não teve a chance de brilhar fora de filmes de comédia, mas que faz um excelente argumento para que possa ser escalada em muitos dramas daqui para frente. E Benício del Toro, segundo filme lançado com ele esse ano (o outro sendo “O Esquemo Fenício“, tem texto aqui no Lumi!) e o segundo filme onde ele é um dos melhores atores do conjunto.
Como a primeira obra de grande orçamento de Paul Thomas Anderson, ele mostra que não existe escala grande o suficiente para ele, cada centavo do orçamento está na tela, sequências de ação que nenhum filme de herói conseguiria entregar, e uma fotografia linda. O filme foi gravado usando a tecnologia VistaVision, que faz com que um espaço maior da película 35mm seja utilizada, gerando uma imagem maior e mais detalhada. Esse fato é aproveitado ao máximo com planos fechados e íntimos de todos os personagens, nos dando a chance de ver cada detalhe da expressão facial deles. Esse filme deve ser visto na maior tela possível, tive a honra de assisti-lo em uma sala IMAX, e recomendo se possível que todos façam o mesmo.
