O ótimo filme “Filhos” dirigido por Gustav Möller apresenta a história da mãe Eva que tem a oportunidade de confrontar o assassino de seu filho de uma maneira pouco convencional. Isso nos é apresentado logo nos primeiros minutos de filme com a expectativa da vingança ser o tema da narrativa. Somos enganados. E talvez justo por isso o filme se classifique como ótimo.
Obviamente depois de assistir você entenda como um filme de vingança e não está totalmente errado. Porém se virarmos o conteúdo de cabeça pra baixo o que cai é uma história sobre maternidade. A medida que o tempo passa descobrimos que talvez o filho de Eva não seja tão diferente do seu assassino Mikkel, e a própria mãe tinha dificuldade de entendê-lo.
Nessa matemática da vida onde os filhos são seres que podem ser a completa oposição de seus pais, Eva tem que decidir o que vai fazer com Mikkel, já que o jogo de poder está favorável a ela que é uma agente penitenciaria no mesmo local em que o homicida está preso.
O filme nos conduz nesse caminho de escolhas e confrontações onde em nome da justiça a dor de Eva pode ser aliviada. Mas como justiça é algo difícil de medir até para os juristas, é natural que ela se perca nessa jornada de dar o troco e o papel de sanguinário pode ser convertido para essa mãe. Ela é que pode se converter em perversa e sádica.
A forma como isso tudo é contado para nós é até admirável, porque o diretor faz boas escolhas entregando cenas que não são carregadas do melodrama que poderia ter. O que fica retido em nossas retinas é essa impressão de tentar entender o que passa na cabeça de Eva e Mikkel. E de longe o que é entregue é vazio ou sem precisão. Os personagens falam por suas ações, mas antes de agir ou até depois, temos esses pequenos segundos onde seus rostos falam conosco. E a nossa própria experiencia é que vai dizer o que entendemos das reais intenções daquela mãe e do criminoso.
Nos últimos momentos do filme é que percebemos que a maternidade é o tema real da narrativa, quando as duas mães são confrontadas sem ser um confronto. Funciona mais como espelho. Quando está diante da mãe de Mikkel, Eva vê a si mesma. Como é difícil entender aquele filho, suas manipulações, suas escolhas e principalmente suas intenções. Acredito inclusive que a escolha de encerrar a história da forma que foi feita, com um final concreto, funciona como libertação para aqueles personagens e para que possamos refletir ainda mais sobre eles.
