Trivialidades da Cidade Grande

Antônio Pedro de Souza

Dois homens descem a rua – a esta hora, não mais movimentada – no Centro da cidade. Já passa das dez da noite, eles estão cansados e conversam sobre seus respectivos trabalhos. Na direção oposta, um casal se aproxima, quando a mulher tropeça e cai. Os homens voltam para ajudá-la, mas o seu acompanhante nada faz, embora observe atento o quadro que se desenrola.

Do outro lado a avenida, o ônibus para no sinal, fazendo com os “socorristas por necessidade” corram em direção à cabine e não percam aquele que seria um dos últimos transportes da noite. NOITE.

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Um jovem atravessa a praça recém-aberta após a reforma da prefeitura, quando é abordado por dois indivíduos que tentam agarrar-lhe pelo colarinho da jaqueta que ele usa. O pingente no pescoço com a palavra “foda-se” já dá o recado. O jovem não se deixa intimidar, desvencilha-se dos quase agressores e segue sua vida rumo à tarde no cinema. TARDE.

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O frio ultrapassa a barreira da blusa, enquanto a pessoa atravessa o túnel para pedestres que dá acesso à rua do outro lado da estação do metrô. O dia começara congelante e a previsão é de que a temperatura caia ainda mais ao longo das horas. MANHÃ.

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CAFÉ ENQUANTO AGUARDA A SESSÃO DE CINEMA VESPERTINA

O cronista se lembra de um caso engraçado, ocorrido quase dez anos antes:

Ao descer pelo quarteirão fechado da Praça 7, uma mulher falava raivosa ao telefone público – saudosos orelhões que ocupavam praças e passeios da cidade:

– Se você não vier me buscar aqui agora, eu te mato! Eu te mato! Eu vou acabar com você!!! – Gritava a mulher.

No bar ao lado, num timing perfeito, um cantor entoava os versos da famosa canção de Martinho da Vila:

– “Mulheres cabeças e desequilibradas, mulheres confusas de guerra e de paz…”

O cronista relembra desta história e sorri, enquanto beberica o café. Os amigos chegam e eles rumam à sala de cinema, onde o filme está para começar.

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No dia seguinte, a rotina se renova logo pela manhã:

Ônibus, avenidas, pessoas, túneis, passarelas, viadutos, café, trabalho, café, trabalho, café…

E o cronista se recorda de um antigo Circuito Fechado que leu nos livros didáticos.

E sorri, toma outro café e se prepara para voltar ao serviço, enquanto torce para que outra história cruze o seu caminho e se torne o tema de sua próxima crônica.

Café, serviço, café, serviço, ônibus…

Trânsito engarrafado.

Sessões de cinema, tropeças e quedas na rua.

Cacofonias de sons. Trivialidades da cidade grande.

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