Crítica: Quebrando Regras

Longa-metragem é pouco crível e bastante raso em sua temática

Pedro Sallomé

Quebrando Regras (2025, dirigido por Bill Guttentag) é baseado em uma história real: uma mulher afegã que luta pelo direito da educação para mulheres em seu país, especificamente educação digital, inicia uma empresa que fornece aulas de computação e programação para meninas em diversas cidades, até que decide montar um time para competições de robótica que ocorrem em todo o mundo. Acompanhamos os desafios de ir contra a corrente em um lugar como o Afeganistão, tendo sua vida colocada em risco pelos seus ideais e ter que lutar por algo que no resto do mundo é incentivado, a educação e o acesso à informação. Como mencionado antes, a história é real, mas infelizmente o filme não faz jus a ela.

Antes do filme se iniciar, temos um breve recado sobre um projeto chamado Angel Studios, que supostamente tinha 750.000 apoiadores, não dei atenção inicialmente, pela temática do filme acreditei ser algum tipo de ONG ou entidade que ajudasse pessoas que se encontram em situações como as representadas na história.

Angel Studios, no fim das contas, é uma iniciativa de streaming/produção cinematográfica que se interessa a fazer filmes que são “motivacionais e edificantes” além de “amplificar a luz”, palavras do próprio site, são conhecidos principalmente por seus filmes cristãos e pelo controverso “Som da Liberdade” (2023, dirigido por Alejandro Gómez Monteverde) ou seja, filmes que contam uma bela história de superação com um final feliz. E não tem nada de errado com isso, o público alvo deles são americanos de meia idade, e com certeza, esse público alvo está mais que satisfeito com as obras.

Mas, infelizmente, eu não sou um americano de meia idade, e tenho um pouco a dizer sobre. Apesar da produção do filme ser aceitável tecnicamente, cenários, figurinos e a qualidade das imagens são todos bons o suficiente, a obra é assolada por uma falta de alma e inspiração de forma com que tudo pareça uma novela (sem ofensa às novelas). Tudo é gravado da forma mais básica possível, sem emoção ou criatividade, deixando o filme de 120 minutos mais longo ainda. E o roteiro pega uma situação extremamente complexa e a deixa achatada além do reconhecimento. É um filme sobre a guerra do Talibã contra a educação das mulheres no Afeganistão, mas a obra não faz nenhum esforço para expor essa dura realidade além do que convém a narrativa, é perfeito para esses americanos de meia idade assistirem, se sentirem bem consigo mesmo por simpatizarem com a pessoa oprimida, e seguir com sua vida feliz assim que os créditos rolam, não existe um pingo de pensamento crítico nesse filme, apenas o bonzinho e o malvado.

O momento mais absurdo dessa obra vem no ato final, onde as garotas do time de robótica montam um robô detector de minas terrestres para apresentar na grande competição de Albuquerque. Elas precisam apenas de uma peça para finalizá-lo e estão correndo contra o tempo para adquirí-la, uma das meninas acompanhadas da protagonista, Roya, vai até uma oficina de mecânico onde ela encontra a peça, e no caminho de volta, pegando carona com os mecânicos temos um diálogo onde um deles revela que serviu no exército e lutou no Afeganistão, exaltando a beleza do lugar e do povo. É uma falta de vergonha na cara exorbitante colocar isso no filme sem mostrar o dano que os EUA fizeram no país, e na região, e ignorar a razão das minas terrestres existirem lá pra começo de conversa.

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