Longa de animação é engraçado, mas não empolga como um bom cartum Looney Tunes
“Eu não vejo como fazer um filme do Pernalonga sem o Pernalonga.” Essa frase profética dita por Kate Houghton (Jenna Elfman) em “Looney Tunes – De Volta à Ação” parece ter, finalmente, ganhado um quê de realidade, mais de vinte anos depois, em “Looney Tunes – O Dia em que a Terra Explodiu”. Isso, porque se você for ao cinema esperando assistir a um filme do coelho mais famoso do mundo, pode sair decepcionado, já que ele não aparece em um frame sequer do novo longa de animação da Warner Bros..
Mas que mal pode haver em trazer ao protagonismo outros personagens da vasta família Looney Tunes? Nenhum é claro. Desde que isso fique bem explícito e, infelizmente, não é o que acontece. O título original do filme é “The Day the Earth Blew Up: A Looney Tunes Movie” e, ao analisarmos o destaque para “Looney Tunes”, obviamente imaginamos um filme do Pernalonga, não só por ele ser o principal personagem desta quase secular fábrica de desenhos, mas também porque em todos os filmes lançados ao longo das últimas três décadas, iniciados com “Looney Tunes” no título, trazia o coelho como herói. Foi assim com “Space Jam: O Jogo do Século”, o já citado “De Volta à Ação” e “Space Jam: O Legado”. Recentemente, os cartazes promocionais passaram a trazer os nomes de Gaguinho e Patolino antes do título do filme, mas à falsa associação com os demais personagens – sobretudo ao Pernalonga, vale ressaltar, já havia sido feita.
Tirando esse problema do protagonismo – e ressaltando, ainda, que a própria Warner parece querer deixar de lado seu maior astro nas produções mais recentes – atentemo-nos aos “donos” deste novo filme: Gaguinho e Patolino. O primeiro, geralmente amado por fãs pelo seu bom coração, gagueira irresistível e modos delicados; o segundo, por ser totalmente amalucado – mais até que o Pernalonga – e com a incrível capacidade de atrair e/ou causar desastres; conseguem segurar o ritmo do filme, numa história inteligente e, ao mesmo tempo nostálgica dos cartuns mais famosos dos Looney.
Tudo começa quando Gaguinho e Patolino, ainda filhotes, são deixados na porta de um fazendeiro, sendo adotados por ele. Com o passar do tempo, eles herdam o terreno – que é incorporado a um loteamento – e fracassam numa vistoria imobiliária, já que há um enorme buraco no telhado. O que eles ainda não sabem, é que o buraco foi feito por uma nave espacial!
Com pouco tempo para consertar a casa, Gaguinho e Patolino tentam vários empregos – e fracassam em todos – até se encontrarem com Petúnia e irem parar numa fábrica de chicletes.
Lá, justamente Patolino descobre uma conspiração intergalática que une a mais nova produção da fábrica ao buraco no telhado de sua casa. Uma poderosa gosma alienígena, capaz de transformar os terráqueos em zumbis, numa bem-inspirada paródia de “Os Invasores de Corpos”. Intrigante, neste caso, é que, além de Pernalonga ter sido preterido do filme, outros personagens icônicos também não aparecem numa trama interplanetária: Marvin, o Marciano, é trocado por um tipo novo, maligno, mas sem o carisma dos ETs comumente associados aos Looney. Vale prestar atenção num frame no momento em que Petúnia, Gaguinho e Patolino tentam descobrir os ingredientes do chiclete. As luvas usadas pelos braços mecânicos da máquina remetem justamente ao líder destes personagens. Se ele não aparece no filme, coube, ao menos, esta “homenagem” disfarçada.
Basicamente, a história do filme termina aí: quero dizer, não há novos entraves após a descoberta deste plano gosmento para controlar o planeta. A partir deste ponto, o foco do longa-metragem passa a ser a união entre Gaguinho, Petúnia e Patolino em derrotar a horda de zumbis alienígenas com uma artilharia variada, com qualidade digna de produtos ACME…
É claro que, com isso, o filme perde ritmo e parte do humor se esvai, já que estamos diante de um cartum de 91 minutos, não de um cartum clássico com 7 ou 8 minutos. A partir deste momento, todo o restante do filme é um vai e vem em que o alienígena tenta pegar Gaguinho, Patolino e Petúnia; enquanto Gaguinho, Patolino e Petúnia tentam fugir do alienígena.
Lá pelas tantas, o roteiro ainda consegue fazer com que nossos “heróis” briguem e acabem presos pelo alienígena vilão. Neste momento, todos os terráqueos estão ocupados fazendo uma gigantesca bola com goma de mascar, que envolve completamente o planeta. Após se resolverem, Gaguinho e Patolino conseguem escapar da prisão, estourar a bola e… Entra em cena o plot-twist mais impensável, mas não menos lunático de todos, revertendo tudo o que achávamos do filme até então!
Os minutos finais se dedicam ao salvamento do planeta e ao destino dos personagens centrais, recheados, claro, de mais correrias, explosões e confusões ao melhor estilo Looney Tunes. Como citado, porém, talvez por não trazer outros personagens do extenso universo de personagens animados da Warner Bros., “O Dia em que a Terra Explodiu” não contém o carisma de outras produções da turma. Afinal, acompanhar desenhos de 8 minutos centrados em apenas um personagem é uma coisa, mas dedicar 91 minutos a apenas dois personagens de uma longa galeria, é outra coisa bem diferente. A menos que a Warner esteja tentando fazer o temerário “multiverso” das animações, lançando a cada ano um novo filme focado em um ou dois personagens, para juntar tudo daqui um tempo – tal como o falecido multiverso DC – essa escolha de excluir os demais integrantes dos Looney Tunes foi, antes de tudo, muito estranha.
Para finalizar, cabe indagar: será que vem aí uma continuação? Gaguinho e Patolino sugerem que sim, no encerramento do filme, pouco antes de seus olhos e sorrisos reproduzirem um peculiar barulho de caixa registradora. Se no cinema e na TV tudo se resume a dinheiro, em detrimento da qualidade, vamos aguardar os próximos lançamentos.
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CURIOSIDADES:
1 – Nos EUA, o nome do personagem Gaguinho não faz referência à sua característica de fala. Assim, há uma cena curta, que explica como o personagem passa a desenvolver sua gagueira – culpa do Patolino, lógico. Porém, essa cena parece deslocada na versão brasileira, uma vez que, ao adotar os filhotes e olhar para seus nomes, o fazendeiro fala “Gaguinho” e “Patolino”, mas o porco só começa a gaguejar após a citada intervenção do pato…
2 – O mérito de enganar o espectador com o título não é apenas de “O Dia em que a Terra Explodiu”: Pelo menos três casos dos chamados “capítulos finais”, entregaram filmes depois de, teoricamente, encerrar suas franquias: “Sexta-Feira 13 – Parte 4: O Capítulo Final” trouxe, nada menos, que sete sequências e uma refilmagem após esta quarta parte. E mais: a parte nove também prometeu ser “a última sexta-feira”, embora tenha tido mais duas sequências. E mais ainda: a parte 8 prometia mostrar um Jason atacando Nova York, embora o “ataque” se resuma aos minutos finais, restritos a corredores escuros e à rede de esgoto da cidade. Com “A Hora do Pesadelo”, aconteceu a mesma coisa: Após “A Hora do Pesadelo 6: O Pesadelo Final – A Morte de Freddy”, a franquia teve mais duas partes e uma refilmagem. Por fim, recentemente foi anunciado um “Shrek 5”, anos após “Shrek 4: O Capítulo Final” ter, teoricamente, encerrado a franquia.
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Cotação por Ossos:

5,0
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Cartaz do filme gentilmente cedido por Paris Filmes/Divulgação: Espaço/Z
