Filme inspirado no conto de Stephen King traz boas sequências à la “Premonição”
Antônio Pedro de Souza
Na década de 1980, o gênero terror viveu um dos seus auges subdividido em filmes trash e slasher, repleto de cenas sangrentas, efeitos que beiravam o caricato (e que eram ótimos, por sinal) e, claro, obras que ganharam o imaginário popular e sobrevivem, ainda hoje, em lembranças nostálgicas de cinéfilos.
Não é exagero dizer que Stephen King contribuiu para grande parte dessas histórias acontecer. Desde sua primeira adaptação cinematográfica, ainda nos anos 1970 (Carrie – A Estranha, de Brian DePalma), o escritor do Maine criou vários elementos para o medo coletivo que ultrapassaram as fronteiras dos EUA, conquistando fãs em várias partes do mundo, inclusive aqui no Brasil.
Nos já citados anos 80, tivemos Christine – O Carro Assassino, Cujo, Colheita Maldita, Cemitério Maldito, Comboio do Terror (dirigido pelo próprio King), entre outros. E, convenhamos, os níveis de sangue, gosma e vísceras destes filmes eram altíssimos.
Agora, cerca de 40 anos após essa fase, o filme O Macaco (The Monkey) promove um retorno divertido e nonsense às características tão marcantes de outrora. O longa dirigido e roteirizado por Osgood Perkins, a partir do conto homônimo de Stephen King (que também deu uma mão no roteiro) é uma miscelânea de fatos engraçados e macabros que revivem lendas urbanas, brinquedos amaldiçoados e um terror pirado, como há muito não se via.
A história começa com um homem tentando se livrar de um carismático boneco de macaco, mas falhando mortalmente. Pouco depois, a babá de dois irmãos gêmeos, Hal e Bill, filhos deste homem, morre. Passado o velório, os irmãos se desentendem e percebem que o tal macaco pode ter um poder além do que eles compreendem.
E é assim que a mãe deles morre, fazendo com que os gêmeos passem a morar com os tios. Mais uma morte depois, temos uma passagem de tempo, mostrando um dos irmãos já adulto e totalmente desconectado da família.
Enquanto tenta se aproximar do filho, ao qual só vê uma vez por ano, Hal começa a receber telefonemas misteriosos sobre o possível paradeiro do macaco. Paralelamente, seu irmão Bill volta à cena para dar uma triste notícia: a tia deles também morreu.
Aliás, a sequência da morte de tia Ida é uma das melhores do filme, realçando tudo o que foi dito sobre humor e terror nonsense dos anos 1980. Ela também homenageia, de forma bem convincente, outra franquia famosa: “Premonição” (esta já iniciada nos anos 2000). Tudo o que vemos na morte de tia Ida não é o que parece. E o seu “destino final” é até imprevisível (como ocorre na franquia homenageada). Um dos grandes momentos do longa.
Enquanto isso, Bill tenta se encontrar com Hal; e Hal tenta livrar a si mesmo e ao seu filho, Petey, da maldição do macaco, que segue espalhando sangue e contabilizando corpos numa pequena cidade. Sedento, o brinquedo continua exercendo influência negativa ao seu redor, levando os irmãos e o sobrinho a um combate épico, que beira a um cataclismo.
Pontos interessantes do filme:
São várias as referências às obras de Stephen King: do nome da babá (Annie Wilkes), passando por um gato cinza pintado na quadra do colégio, e ainda uma cerca de madeira branca semelhante às das casinhas vistas em Cujo. Também: o sobrenome de uma das professoras dos gêmeos é Torrance.
Além disso, a cidade parece receber uma fama repentina quando mortes estranhas começam a ocorrer – uma sequência bem editada, parecida com um videoclipe (só que com mortes), mostrando os mais terríveis acidentes. Deste modo, há até uma torcida organizada gritando o nome do lugar cada vez que uma nova vítima é feita.
O macaco de brinquedo, aliás, é algo bem comum e merece ser discutido: presente em diversas lendas urbanas e filmes, ele sempre está atrelado a mal presságios ou brincadeiras mais pesadas. Sua forma com címbalos (pratos de metal, que batem enquanto o bicho ri loucamente) pôde ser vista rapidamente na franquia Invocação do Mal (reforçando sua fama macabra) e Eurotrip – Passaporte para confusão (reforçando sua fama masoquista). Porém, as coisas para o cinema ficaram diferentes depois que a Disney utilizou o brinquedo numa cena de Toy Story 3, registrando sua imagem. Agora, é preciso uma autorização do Mickey Mouse para poder utilizar este brinquedo em produtos audiovisuais. Desta forma, a saída escolhida pelos produtores, foi mudar o instrumento musical do macaco: saem os pratos e entra um tambor. O efeito macabro apenas se adaptou. E deu muito certo. Por fim, não espere um filme de terror pesado, dramático, daqueles que te farão perder o sono ao apagar as luzes. É um filme, antes de tudo, divertido, amalucado, que brinca com os clichês e não economiza em cabeças esmagadas, cortadas e todas essas derivações do gênero.
Outro ponto interessante a ser observado é que a maldição do macaco acaba não funcionando se, por acaso, um irmão tenta prejudicar o outro (veja isso várias vezes ao longo do filme). E como referência final, repare no caminhão na última cena do longa. Vale o ingresso.
***
Cotação por Ossos:
7,0

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Ficha Técnica:
O Macaco
Título Original: The Monkey
Direção: Osgood Perkins
Roteiro Osgood Perkins e Stephen King
Inspirado no conto homônimo de Stephen King
Elenco:
Theo James – Hal/Bill adultos
Christian Convery – Hal/Bill adolescentes
Colin O’Brien – Petey
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Cartaz do filme gentilmente cedida por Paris Filmes e Espaço/Z.
