Os Radley: dinâmica familiar em xeque

Longa mescla terror psicológico e sobrenatural, com direito à drama – muito drama

Antônio Pedro de Souza

De tempos em tempos os vampiros ganham força e voltam com tudo às telonas. E 2025 parece ser um desses momentos em alta para os sugadores de sangue. Começamos o ano com Nosferatu e, agora, somos apresentados ao longa Os Radley, que acompanha a família de mesmo sobrenome.

A família que conhecemos já na cena de abertura é a padrão de qualquer filme que envolva drama ou comédia neste nicho: O pai, a mãe e os filhos. A história começa a ser narrada pelo filho, que já revela – nesta breve apresentação – ser homossexual e não conseguir se encaixar na sociedade. Nas palavras do adolescente, sua família é vista por todos – inclusive por ele – como uma família estranha.

A irmã sofre de bulimia e é vegana. A mãe é uma exímia dona de casa que ama planejar todas as tarefas do dia a dia, colocando-as em tabelas e plastificando-as. O pai é médico. Uma família padrão de classe média inglesa.

Neste começo, os Radley estão ocupados com a festa de aniversário de Peter, o pai. Durante a festividade, os filhos adolescentes saem com alguns amigos e Clara vai a um local afastado com um rapaz. Neste momento, ela sofre uma tentativa de estupro e seus instintos naturais agem: ela se transforma numa vampira e mata seu assediador.

Como se não bastasse o trauma de quase ter sido estuprada, Clara precisa lidar com essa descoberta chocante. Ao confrontar os pais, a verdade vem à tona: os Radley são vampiros. Apenas Peter e sua esposa Helen sabiam e esconderam dos filhos a verdade, já que eles pertencem a um grupo denominado de abstêmios, ou seja, que preferem não beber sangue.

A revelação pega Clara e seu irmão Rowan de surpresa. Agora, os dois adolescentes, além de terem que encarar os problemas típicos da idade, precisarão lidar com este fato sobrenatural em suas vidas.

Tentando melhorar a dinâmica familiar, Peter chama seu irmão Will para sua casa. Will não é um abstêmio, e sua função será fazer os sobrinhos entenderem um pouco mais sobre o mundo dos vampiros. Além, claro, de encobrir as pistas deixadas pelo assassinato do assediador de Clara.

Mas se a dinâmica familiar já era complexa antes, quando Rowan e Clara achavam que eram “apenas humanos”, agora que sabem que são vampiros, a situação ficará ainda mais complicada: como lidar com os amigos na escola? Em quem confiar para contar tamanho segredo? Quais são as reais intenções de tio Will ao voltar ao ciclo familiar?

A partir destas questões, Os Radley desenvolve sua trama, ora derrapando aqui em discussões clichês, ora se alongando em uma história arrastada que pouco empolga o público.

É um filme que soa cansativo, porque não aproveita sua temática para criar uma história convincente. O drama familiar funcionaria em qualquer outra dinâmica, que não fosse a dos vampiros; e o terror dos vampiros funcionaria em qualquer outra dinâmica que não envolvesse o drama familiar. Ao juntar os dois eixos, temos uma historinha que tenta fugir dos padrões enquanto, claramente, é uma história-padrão.

Já vimos centenas de filmes sobre relacionamentos familiares difíceis – em menor e maior grau – bem como, já vimos histórias sobre hordas de vampiros, lobisomens e similares.

Ao juntar as duas coisas, o roteiro poderia ser mais bem aproveitado, realçando as dificuldades, por exemplo, dos adolescentes encararam sua nova realidade. Mas isso é desperdiçado com cenas e cenas de conversas sem fim, enquanto o tio desagradável – uma espécie do “Tio do Pavê”, só que vampiro, começa a meter os pés pelas mãos e, em vez de ajudar, acaba atrapalhando a família.

Em meio a isso tudo, temos uma investigação policial paralela – já que tivemos um assassinato no começo da história. O ex-policial, que assume pra si a responsabilidade de desvendar o crime – e criar sozinho seu filho adolescente (e amigo dos vampiros) passa a perseguir os Radley contando com uma misteriosa rede de apoio.

À medida que a investigação avança, novos segredos dos dois lados são revelados, levando todos os personagens a um sangrento confronto final.

Assim, o filme se consolida como um híbrido de terror (sobrenatural e psicológico), drama familiar e policial sem, no entanto, se estabelecer em nenhuma dessas categorias. Fica transitando de uma a outra conforme a necessidade do roteiro. Alguns veículos também classificam-no como “comédia”, mas não tem nada engraçado o suficiente para justificá-lo neste gênero.

A trilha sonora é interessante com referências a outras obras sendo, em grande parte, instrumental. O encerramento é interessante, dando um alento aos nossos adolescentes. Percebemos que eles estão prontos para sair de casa e viver suas vidas. Seja isso bom ou ruim no momento.

Para finalizar, vale ressaltar que ao menos vinte minutos de filme poderiam ter ficado no chão da sala de edição (na lixeira do computador de quem montou o filme, numa atualização tecnológica). São 1h50 minutos de uma história que, como já dito, soa arrastada e não empolga. Assim, uma outra montagem com cerca de 1h30, talvez, desse uma nova agilidade ao longa de Euros Lyn, baseado no livro de Matt Haig.

Curiosidade: O livro “Os Radley” foi publicado em 2010, quando “Crepúsculo” estava em alta e havia o retorno da saga “Os Diários do Vampiro”. Talvez a distância entre a publicação do livro e a produção do filme tenha sido boa, para que o público se esquecesse desta padronização vampiresca do fim da primeira década do século XXI. Ainda assim, o filme não empolga, ficando aquém do seu potencial como terror dramático vampiresco.

***

Cotação por Ossos:

8,0

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Ficha Técnica:

Os Radley

Título Original: The Radleys

Direção: Euros Lyn

Baseado no livro homônimo de Matt Haig

Elenco:

Damian Lewis – Peter Radley e Will Radley

Kelly Macdonald – Helen Radley

Bo Bragason – Clara Radley

Harry Baxendale – Rowan Radley

Jay Licurgo – Evan Copeleigh

Shaun Parkes – Jared Copeleigh

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Foto do filme gentilmente cedida por Paris Filmes e Espaço/Z.

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