Por muito tempo fomos levados a viver forçadamente sob “o perigo da história única”, nas palavras da escritora e ativista nigeriana Chimamanda Ngozi Adichie, devido a um monopólio colonizador de códigos, de signos e de imagens eurocêntricas ou anglo-saxônicas na cultura global.
Eis que a obra “Parasita”, dirigido por Bong Joon-Ho, marcou, naquele ano, justo o momento em que o Oscar mudou o nome da categoria filme em língua estrangeira para filme internacional. Isso rompeu uma barreira universal da linguagem, que fazia parecer que tais culturas estariam distantes demais para o conhecimento de massas, tipo uma torre de babel, como bem apontou o crítico Filippo Pitanga em um de seus textos com relação ao fenômeno “Parasita” no Oscar.
E é bastante irônico que o próprio contexto do filme em questão aqui, hoje, aborde isso e coloque tais fatores em xeque, pois a disparidade de classes e de oportunidades sociais descortina um fracasso moral inevitável: a humanidade ainda não conseguiu criar outra forma de organização que não se alimentasse de forma parasitária e simbiótica a superar este seco e cruel abismo, dessa máquina de moer gente que é o sistema capitalista.

A Coreia do Sul é uma economia emergente classificada como Tigre Asiático em razão do seu vasto crescimento econômico baseado no investimento na educação e na exportação de bens industrializados.
história da Coreia do Sul inicia-se por meio da integração entre diferentes reinos localizados no extremo leste da porção continental asiática. O país, ainda essencialmente agrário e atrasado, foi dominado pelo Japão, que iniciou um intenso processo de exploração, até meados do século XX. A derrota japonesa na Segunda Guerra Mundial (1939-1945) modificou profundamente a história da Coreia, que, em um contexto da Guerra Fria, foi dividida em duas partes: a Coreia do Sul, apoiada pelos Estados Unidos, e a Coreia do Norte, apoiada pela antiga União Soviética (URSS).
Em 1950, as forças militares norte-coreanas invadiram a Coreia do Sul, começando um dos mais sangrentos conflitos da Guerra Fria. O conflito, teoricamente congelado em 1953, possui reflexos até os dias atuais, com o intenso estado de tensão entre os dois países. A Coreia do Sul transformou-se em uma democracia liberal industrializada, classificada como Tigre Asiático.
O país é considerado uma das principais potências econômicas da Ásia e possui grande participação na produção mundial de bens de alta tecnologia. Mesmo assim, é uma nação pobre em recursos naturais e bastante dependente da importação de produtos primários.
O setor primário da Coreia do Sul é restrito e concentrado na produção de bens agrícolas tradicionais, como o arroz e o pescado. Já no setor secundário, o principal do país, tem destaque a produção de automóveis, eletrônicos, máquinas, equipamentos e bens de alta tecnologia. O setor terciário da Coreia do Sul está concentrado no comércio internacional e nos serviços financeiros.

Mas por que entrar em tais detalhes se estou discorrendo aqui sobre o filme “The Moon“?
Chama-se contexto.
É que o filme não seria essa sci-fi toda que é sem a Coreia ter chegado hoje aonde chegou, conforme esmiuçamos neste texto.
O cineasta sul-coreano Kim Yong-hwa, que está fazendo blockbusters na sua terra natal há mais de uma década parece ter visto e revisto filmes como Independence Day, O Dia Depois de Amanhã e 2012 antes de escrever e dirigir esta obra da história de uma missão espacial-lunar para a Lua que falha devido a explosões solares, deixando somente um de seus três tripulantes vivo. Acontece que é muito mais um filme de catástrofe do que propriamente só um sci-fi comum.
Mas chegamos ao pior, dentro da ideia de bem-fazer cinematográfico que alguns acham que sabem ou entendem, como a historinha de que “os coreanos sabem fazer cinema”. Bom, nem todos.
Mesmo dentro da categoria blockbuster de seu filme, a obra de Kum Yong-hwa parece gritar ser Arte – como se isso fosse automaticamente um elogio e definitivamente não é – por meio de uma tentativa barata de estilo como roupagem. Entretanto, é impressionante como pouquíssimos planos sustentam o estilo proposto. É tudo muito mal filmado. As limitações orçamentárias não são um problema quando há um mínimo tato e cuidado com o uso da linguagem cinematográfica, mas aqui definitivamente não parece ser o caso.

O que mais decepciona, de forma que parece contraditória visto ser um filme que grita estilo, é justamente esse descuido intelectual com a imagem. Em outras palavras, o processo de pensar cada plano semanticamente, sobre como podem contar a história para além de serem visualmente “interessantes” e “bonitinhos”.
Isso sem falar do personagem, que é muito difícil se importar com ele, embora tenha sido “o” sobrevivente.
Pois posso dizer que, diante desse filme, não o assisti, mas sobrevivi a ele.
Lamentável é o que fizeram aqui.
Cotação por ossos: 2,0

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Fotos: Divulgação: Sato Company e Sinny Assessoria.
