“Somos uma potência cinematográfica” – Dira Paes ressalta importância do cinema brasileiro

Entrevista com atriz e cineasta ocorreu durante a 18ª edição do Cine BH

Antônio Pedro de Souza

Nós nos acostumamos a ver Dira Paes nas telinhas e telonas ao longo de quase quatro décadas. Foram diversos personagens que nos emocionaram e nos divertiram, como a Potira, na refilmagem de “Irmãos Coragem” (1995); a dona Helena, mãe dos cantores Zezé di Camargo e Luciano, em “Dois Filhos de Francisco” (2005); Solineuza, em “A Diarista” (2004-2007); entrou outros papéis marcantes. Nas últimas transmissões do Oscar pela Rede Globo, foram dela os comentários mais certeiros a respeito da indústria cinematográfica. E, agora, a artista se lança como diretora no longa-metragem “Pasárgada”, que foi apresentado no Festival de Gramado e na mostra CineBH para, então, chegar ao circuito comercial.

De passagem por Belo Horizonte, onde participou da sessão de pré-estreia do filme no Cine Una Belas Artes, Dira concedeu uma entrevista na sexta-feira, 27/9, nos jardins do icônico Palácio das Artes, uma das sedes da 18ª edição da mostra cinematográfica. Na ocasião, ela ressaltou a importância do cinema brasileiro; destacou os desafios da produção cinematográfica; contou segredos dos bastidores de “Pasárgada” e falou sobre seu ativismo ambiental.

Perguntada sobre os desafios de se produzir cinema no Brasil, Dira Paes foi enfática:

“Nós somos uma potência cinematográfica. Nós temos que nos olharmos como uma potência cinematográfica. A dificuldade de produção acontece também nos EUA. Para os autorais. Para os que estão começando. Para os que são irreverentes na sua linguagem cinematográfica. Produzir não é fácil em nenhum lugar do mundo, mesmo nos Estados Unidos. Nós temos que entender, mercadologicamente, que nós somos um ótimo investimento. O Cinema é uma potência de comunicação.”

Dira Paes no Cine BH – Foto: Antônio Pedro de Souza

A cineasta também falou da importância de festivais, como a Mostra Cine BH:

“A Mostra Cine BH cumpre um papel fundamental para a produção do cinema brasileiro. São em lugares como esse que surgem grandes projetos. E acho que a parceira que a gente tem que buscar agora é com o público. É entender qual é esse viés que a gente pode ter.”

Dira relembrou o impacto da perda de Paulo Gustavo, morto durante a pandemia de COVID, e a luta para o cinema brasileiro se firmar como uma potência:

“Talvez o cinema ainda esteja vivendo o processo de assimilar a perda da nossa maior bilheteria, que é o Paulo Gustavo. Uma bilheteria que foi um fenômeno para o Brasil, que vencia qualquer estreia da Marvel. Talvez isso não interesse aos grandes mercados, porque nós somos os maiores consumidores dos blockbusters americanos. E a gente sabe que as telas estão ocupadas por eles no mundo inteiro. Então é ‘Davi e Golias’, é uma luta que não é equilibrada. Porém, eu sou uma entusiasta (…), porque quando a gente acerta, é muito potente. Eu estava em Veneza com duas experiências brasileiras. Então, o que está faltando? Acho que uma valorização nossa, de ter orgulho dos nossos projetos e entender que cinema não é só super-herói. Cinema é uma busca de linguagem. Às vezes, você pode não gostar, mas não pode negar a busca de linguagem daquele cineasta. Porque daqui a pouco pode ser um fenômeno. E a gente sabe que o que fica eterno no cinema não é bilheteria, é filme bom.”

Foto: Antônio Pedro de Souza

Dira Paes também falou da sua ligação com Minas Gerais, lembrando que filmou pouco no estado, mas que foram experiências marcantes:

 “Eu fiz uma participação afetiva em ‘O Segredo dos Diamantes’ e fiz uma novela, em 1995, que foi a segunda versão de ‘Irmãos Coragem’, onde eu morei três meses em Diamantina, e essa foi a minha primeira grande conexão com Minas. Foi um momento muito especial da minha vida e isso faz com que eu me sinta muito próxima desse universo.”

O momento de maior destaque na entrevista, foi sobre o ativismo ambiental da artista. Ela destacou que teve essa consciência social na primeira metade da década de 1980, quando teve conhecimento de uma campanha do sociólogo Betinho. Então, antes de ser atriz, ela já era ativista ambiental:

“Eu queria que a Irene (personagem dela no filme ‘Pasárgada’) representasse o urbanoide. Nós somos os urbanoides, nós somos os que destroem. Nós que somos conscientes, ligados à arte, ao jornalismo, destruímos o meio-ambiente. Nós ligamos nossos carros, nosso ar-condicionado… A gente acordou, já começou a destruir.”

Dira fez um retrospecto da destruição ambiental na região Norte do Brasil e de como isso afeta a população local. Ela também relembrou o preconceito que os moradores dos estados do norte sofrem. Ela falou, ainda, de como a poluição, as queimadas e outras formas de degradação do meio-ambiente só viram notícia em âmbito nacional quando, de alguma forma, afetam os estados da região Sudeste.

 Por fim, a cineasta falou sobre o processo de produção de ‘Pasárgada’, os desafios de filmar na pandemia e a relação com os atores.

Você pode conferir a conversa na edição especial da LumiTV:

Deixe um comentário