Filme traz de volta a trilha de Danny Elfman
Tim Burton é conhecido por seu estilo autoral, que mistura o mórbido com o cômico, sempre com um toque de fantasia. Sua capacidade de transformar personagens estranhos em figuras amáveis é uma de suas marcas registradas, como vimos em “Edward: Mãos de Tesoura”. Agora, 35 anos após o original, Burton retorna ao universo de “Os Fantasmas se Divertem”, mostrando que sua criatividade continua em alta.
Em entrevistas, Burton deixou claro que “não faria uma sequência apenas por dinheiro”, e isso é visível na paixão que ele traz para este projeto. Embora a motivação financeira sempre esteja presente em Hollywood, é inegável que o diretor retorna com entusiasmo ao seu projeto mais inventivo. Se no filme original os efeitos especiais eram datados, trazendo uma nostalgia dos anos 90, agora Burton usa a tecnologia digital de forma criativa, mesmo que a história pareça, em alguns momentos, voltada para uma nova geração imersa no mundo digital.
Na nova trama, a família Deetz retorna à icônica casa em Winter River, agora marcada por uma tragédia que une três gerações. Lydia Deetz (Winona Ryder), já adulta e mãe da jovem Astrid (Jenna Ortega), vê sua vida virar de cabeça para baixo quando sua filha descobre, por acidente, a misteriosa maquete da cidade escondida no sótão. Ao reabrir o portal para o além, Astrid traz de volta o irreverente e caótico fantasma Beetlejuice (Michael Keaton), que promete transformar a vida dos Deetz em um verdadeiro caos sobrenatural.
Diferente do filme original, onde Beetlejuice era uma figura quase antagônica, nesta sequência ele se torna mais um parceiro, especialmente na relação com Lydia e sua filha. Muitas vezes, é o próprio Beetlejuice que se mete em enrascadas e precisa da ajuda dos humanos para se livrar delas, uma sacada interessante do roteiro.
A presença de Monica Bellucci, apesar de interessante em suas primeiras cenas, acaba se perdendo ao longo do filme, como se sua personagem estivesse ali apenas por conveniência. Em contrapartida, Willem Dafoe brilha como um defunto investigador, um ex-ator canastrão de filmes de ação. Esses personagens não precisam de tramas certinhas e coesas; estão ali para expandir o universo particular de Burton, e o diretor faz isso com maestria, usando o tempo a seu favor e criando subtramas que garantem bom humor e boas risadas.
A trilha sonora de Danny Elfman retorna com força, trazendo a nostalgia da música original, mas com um toque de modernidade. É como se a trilha sonora fosse a mesma de antes, apenas acrescida de novos acordes que combinam perfeitamente com o mundo criado por Burton.
A relação entre Lydia e sua filha Astrid é um dos pontos altos do filme. Astrid, interpretada por Jenna Ortega, é uma personagem que só acredita no sobrenatural quando o vê, e seu maior trauma é não poder ver o pai falecido. A dinâmica entre mãe e filha em tela é envolvente, com Astrid sendo um contraponto ao que Lydia era no passado, mas ainda compartilhando o desejo de entender o mundo dos mortos.
Burton também atualiza a ideia de que o terror pode ser lucrativo. Lydia agora tem um programa que explora casas mal-assombradas, conectando-se com fantasmas e o sombrio. Essa relação com a TV, a internet e os influencers é bem explorada, trazendo o filme para os tempos atuais.
Se há algo a desejar, é uma história tão redonda quanto a do primeiro filme. A sequência se passa mais no mundo sobrenatural do que no mundo humano, o que, embora não seja ruim, poderia ter adicionado mais camadas, especialmente para os novos personagens.
Em resumo, “Os Fantasmas Ainda se Divertem: Beetlejuice Beetlejuice” prova que Tim Burton ainda sabe como nos levar para seu mundo lúdico, sombrio e divertido. As comparações com o original são inevitáveis, mas esta sequência funciona com uma personalidade própria, ampliando a mitologia dos seres imortais e assustadores. Vá ao cinema com tranquilidade, porque essa nova aventura no universo de Beetlejuice vale a pena.
