Crítica: Zé

Vítor Avelar

Em 1964, deu-se o golpe de estado que iniciou a Ditadura Militar no Brasil. Em meio a um regime sem espaço para a liberdade, a militância de oposição se tornou o grande alvo da opressão e muitos tiveram que viver na clandestinidade para lutar por um país livre. Um deles foi José Carlos Novaes da Mata Machado, que se casou, teve um filho, e viveu por 4 anos na ilegalidade (para os padrões da época), até ser preso, torturado e morto em 1973.

O filme de Rafael Conde é constituído, principalmente, por cenas de um único plano em enquadramentos estáticos bastante sóbrios. Um dos poucos momentos que exploram os movimentos de câmera é, justamente, a tomada que inicia o romance do casal principal, quando a câmera acompanha de lado o movimento de Madalena correndo, com o cenário se tornando um vulto por conta da velocidade, e ela finalmente para e se escora em uma parede, com Zé ao lado, e os dois tocam as mãos.

A abordagem da relação romântica, que começa a se desfazer muito rápido, é o ponto forte de Zé. Isso porque, dentre as muitas cenas de diálogos explorando as preocupações com o contexto histórico e as estratégias de luta dos personagens, o que realmente se desenvolve são as tensões entre essas pessoas que, apesar de estarem do mesmo lado, percebem a luta de maneiras diferentes e desejam viver de maneiras diferentes.

Porém, me parece que, para além desta relação, o filme consegue construir pouco nas suas conversas. Os momentos em que se fala sobre a luta parecem mais tirar a importância dela. Um momento em particular é quando o personagem título, em missão no Nordeste, faz uma palestra, educando os trabalhadores sobre os ideais Marxistas. Na cena, closes mostram os rostos dos trabalhadores que apenas reagem acenando com a cabeça positivamente, sem nada a acrescentar, como decorações àquele espaço e adereços ao protagonista.

Isso se torna um problema ainda maior quanto o personagem título, em uma conversa com seus familiares, também militantes, mas não clandestinos como ele, se revolta com um comentário sobre a necessidade de engajar a classe média e ressalta que a realidade são os trabalhadores que precisam viver com apenas um salário mínimo. O problema é que, em um filme em que esses mesmos trabalhadores mal parecem existir, a realidade se torna justamente essa classe média cuja luta passa a não fazer sentido.

Por fim, Zé é um filme que possui boas performances, em especial de sua dupla principal, Caio Horowicz e Eduarda Fernandes, que conseguem trazer uma relação verdadeira à tela. Porém, essas mesmas performances são sabotadas pelo roteiro do diretor e de Anna Flávia Dias, que não consegue criar um universo no qual seus desejos, sonhos e lutas sejam verdadeiros.

Cotação por ossos: 5,0

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