Maratona “A Hora do Pesadelo” estará em cartaz nesta sexta
“Um, dois… Freddy vem te pegar”. Quem viveu as décadas de 1980 e 1990 certamente se lembrará da musiquinha medonha que antecedia os ataques de Freddy Krueger na franquia “A Hora do Pesadelo”. Mesmo quem não viveu nas citadas décadas conhece, de uma forma ou de outra, o personagem vivido pelo ator Robert Englund. E nesta sexta-feira, os fãs poderão se reencontrar com o rei dos pesadelos em uma maratona muito especial numa das salas de cinema mais charmosas de Belo Horizonte: O Cine Humberto Mauro (Avenida Afonso Pena, 1537, Centro) exibirá os longas “A Hora do Pesadelo” (1984), “A Hora do Pesadelo 2: A Vingança de Freddy” (1985), “A Hora do Pesadelo 3: Os Guerreiros dos Sonhos” (1987) e “O Novo Pesadelo: O Retorno de Freddy” (1994), a partir das 19h. Os filmes compreendem a “Saga Nancy Thompson”, estrelados (exceto a parte 2) por Heather Langenkamp.
Freddy, Jason, Michael Myers, Leatherface e Chucky, só para citar alguns, são personagens marcantes que sobreviveram ao tempo, às suas próprias séries de filmes, e se tornaram algo a mais. É como a famosa cena do chuveiro de “Psicose” (1960). Você pode até não ter assistido ao filme de Alfred Hitchcock, mas conhece a cena – seja por frames, fotos ou paródias. Isso também acontece com os personagens dos filmes slashers que constantemente apareciam nas sessões de cinema dos anos 80 e perduram até hoje, seja nas memórias dos antigos fãs ou sendo descobertos pelas novas gerações. É comum ver jovens de quinze, vinte anos, usando camisetas ou adereços que remetem aos personagens citados.

Freddy, porém, consegue se destacar também por outros motivos. Segundo o cineasta e jornalista Felipe M. Guerra, “Se há algo que torna Freddy Krueger eterno, para além das piadinhas infames e dos efeitos especiais, é a ameaça imaterial que ele representa enquanto monstro ficcional.” Guerra explique que “As chances de alguém visitar Crystal Lake e ser vítima do Jason, ou de viajar até a Transilvânia e encontrar o Drácula, são muito pequenas. Porém todo mundo precisa dormir, e ao fazê-lo tem 50% de chances de ter um pesadelo. Sendo o senhor desse universo com regras muito particulares, Krueger é um adversário praticamente imbatível. A prova é que, em sete filmes, o vilão foi temporariamente destruído das mais diferentes maneiras, mas sempre retornou. Não há uma forma definitiva de eliminá-lo, como a bala de prata para o lobisomem ou a estaca no coração para os vampiros.” O cineasta conclui que “o fato de ele atacar justo no momento em que estamos mais indefesos – na cama, desacordados, sem possibilidade de fuga ou reação – torna Freddy um monstro ainda mais assustador, mesmo que a sua presença tenha sido desperdiçada em muitos dos filmes da irregular franquia.”
É consenso entre fãs e especialistas em cinema que nenhuma grande franquia slasher pode ser 100% aproveitada, ou seja, alguns filmes foram feitos apenas para atrair mais público para as salas de cinema e os cuidados com o roteiro e a direção foram esquecidos. Assim, há quem defenda que da franquia “Sexta-Feira 13”, os melhores filmes compreendem a quadrilogia original. Outros ressaltam a importância da “Saga Tommy Jarvis” (filmes 4, 5 e 6). Poucos elogiam, mas aceitam, como parte da franquia original, os chamados “episódios-solo de Jason” (filmes 7, 8 e 9), além da bizarra parte 10.

Com Freddy, algo semelhante acontece: a trilogia original é bem forte, embora também tenha seus percalços. O primeiro filme mostra uma jovem Nancy Thompson (Langenkamp) e seus amigos às voltas com um mal que os assola enquanto dormem. Quando seus amigos começam a morrer, Nancy resolve ir atrás de respostas, descobrindo um antigo segredo da cidade, que pode ter originado a onda de assassinatos sobrenaturais. O filme, escrito e dirigido por Wes Craven, chegou aos cinemas em 1984 e eternizou Freddy no hall dos assassinos slashers.
A parte 2 é, até hoje, uma incógnita em termos cinematográficos, pois consegue se aproximar das partes 1 e 3 e, ao mesmo tempo se afastar de toda a franquia por diversos motivos: É o único filme da série protagonizado por um homem, num período em que slashers, convencionalmente, eram focados na “final girl”; traz um subtexto homossexual (o que rendeu críticas na época e levou ao ostracismo o astro em ascensão Mark Patton – puro preconceito do público e da crítica. Para saber mais, assista ao ótimo documentário “Scream Queen – A Hora do Meu Pesadelo”) e apresenta um Freddy fora do mundo dos sonhos, algo impensável até então. O enredo se passa cinco anos após o primeiro filme, quando a família de Jesse se muda para a casa onde Nancy morava. O jovem, vítima de pesadelos terríveis, descobre o diário de Nancy e mergulha no mundo sobrenatural de Freddy, descobrindo que desta vez, o assassino tem um plano mais sombrio que antes. E que Jesse pode ser a ponte entre o mundo dos sonhos e o mundo real.

Embora não tenha a presença física de Nancy, o longa segue os eventos ocorridos no primeiro filme, sendo incorporado à mitologia da personagem, que voltaria na parte 3.
Anos após os eventos mostrados nos dois primeiros filmes, a terceira parte acompanha alguns jovens que têm demonstrado comportamento suicida. Os sobreviventes são enviados a uma clínica psiquiátrica, enquanto médicos tentam descobrir o que está acontecendo. Neste momento, Nancy Thompson entra em cena, como uma pesquisadora de padrões de sonhos, propondo novas terapias e uma droga experimental: Hypnocil (guarde esse nome se for assistir “Freddy x Jason”), um bloqueador de sonhos, para que os adolescentes não possam ter contato com Freddy. É também nesta terceira parte que descobrimos um pouco mais da origem do assassino. Além de Heather Langenkamp, temos a volta de John Saxon, como o policial pai da protagonista.

A partir daqui, a franquia ganha um tom interessante, embora claudicante: os sobreviventes da parte 3 fazem uma ponta na parte 4. Os sobreviventes da parte 4, aparecem na parte 5 (a protagonista é a mesma) e, depois, todos desaparecem na parte 6. Assim, podemos dividir a franquia em momentos específicos: Partes 1 a 3 (e 7, falaremos dela a seguir), como a “Saga Nancy Thompson”. Filmes 3 e 4, como a “Saga Kristen Parker”; e filmes 4 e 5, como a “Saga Alice Jhonson”. O filme 6, que “encerra” a franquia, é um episódio deslocado dos demais filmes, embora volte ao passado de Freddy e nos mostre muito mais sobre sua vida antes dos pesadelos.
A parte 7 é um excelente caso de metalinguagem que Wes Craven criou antes de “Pânico”. O filme se passa em 1994, com Heather Langenkamp e Robert Englund dando entrevista num programa de TV sobre os dez anos da franquia “A Hora do Pesadelo” e como os filmes mudaram as vidas de ambos. Pouco depois, Heather é chamada aos estúdios da New Line Cinema e convidada para viver Nancy mais uma vez. De acordo com os produtores, Wes Craven tem uma ideia genial para reviver Freddy Krueger e precisa Heather para reviver Nancy Thompson. À medida que o filme avança, ficção e “realidade” se misturam e Heather passa a não saber o que se trata de vida real ou filmagem, num dos melhores filmes da franquia.

Vitor Miranda, Gerente de Cinema da Fundação Clóvis Salgado e curador da mostra “Estruturas do Medo: Giallo e Slasher” ressalta que “Desde o primeiro filme, o Wes Craven, que foi o idealizador, roteirista e diretor, construiu um enredo com elementos novos, que não estavam sendo explorados na época.” Ele destaca também que “não apenas este primeiro filme, mas tanto o segundo como o terceiro lidam muito com a impressão coletiva de que aqueles jovens estão sozinhos, não tendo a família, a sociedade ou ninguém com quem contar ou a quem recorrer, algo que fala muito sobre uma desesperança própria da década de 1980.”
O Cine Humberto Mauro exibirá, nesta sexta-feira, 26/07, os três primeiros filmes da série e o sétimo, nos seguintes horários (atente-se para as formas como os ingressos serão distribuídos):
19:00 – A Hora do Pesadelo (1984) – ingressos distribuídos gratuitamente na bilheteria a partir das 18h.
20:45 – A Hora do Pesadelo 2 – A Vingança de Freddy (1985) – ingressos distribuídos gratuitamente na bilheteria a partir das 19h45.
22:15 – A Hora do Pesadelo 3 – Os Guerreiros dos Sonhos (1987) – ingressos distribuídos gratuitamente na bilheteria a partir das 21h15.
00:00 – SESSÃO DA MEIA-NOITE: O Novo Pesadelo – O Retorno de Freddy Krueger (1994) – ingressos distribuídos gratuitamente no site Eventim a partir do meio-dia da sexta-feira, 26/07.
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Além do cinema:
O público que for ao cinema, deve ficar atento e se preparar para pegar fila grande nos banheiros: Além da maratona de filmes, neste fim de semana haverá o Arraiá da Liberdade, nos jardins do Palácio das Artes, com entrada gratuita. O Grande Teatro recebe o show de Alceu Valença e Orquestra Ouro Preto; e as galerias seguem abertas à visitação. Os banheiros estão localizados nos jardins, atrás de onde foi montado o palco do Arraiá.
O Projeto Lumi perguntou à gerência se o Café do Palácio teria horário de funcionamento estendido, como em outras maratonas, mas não obtivemos resposta até o fechamento desta matéria.

Fotos cedidas pela assessoria de imprensa da Fundação Clóvis Salgado.
