Crítica: Clube dos Vândalos

Narrativa se perde na falta do foco, ficando aquém do esperado para um road movie

Antônio Pedro de Souza

Imagine as várias possibilidades ao se produzir um filme, no melhor estilo road movie, sobre um clube de motociclistas durante a década de 1960, baseado em um livro de entrevistas e fotografias históricas!

Agora assista a esse filme finalizado e perceba que, embora a premissa seja boa e tenha algumas cenas memoráveis, o resultado final é bem insatisfatório.

Essa é a realidade de Clube dos Vândalos, longa-metragem que leva cerca de duas horas para ir de nada a lugar nenhum.

Talvez seja a falta de foco, talvez sejam os inúmeros personagens pouco explorados, mas no fim, o filme se mostra uma colcha de retalhos sem um fio condutor condizente, o que o torna confuso em diversos momentos e enfadonho em tantos outros.

Mas vamos por partes:

Flashback ambíguo

O longa começa com o personagem Benny (Austin Butler) se envolvendo em uma briga de bar e… (não vamos revelar os detalhes). Corta para algum momento do passado – ou futuro, já que linha temporal não é o forte do longa.

Ah! Vale ressaltar que nos créditos iniciais, há um letreiro informando que durante os anos 1960 e 1970, um jornalista entrevistou um grupo de motociclistas e registrou diversas fotos. Depois publicou um livro. E que o filme é baseado neste livro.

Enfim, corta para uma lavanderia, com o tal jornalista conversando com uma dona de casa típica da época. O marido dela é o Benny e ela conta como o conheceu.

Essa sequência é, realmente, muito boa: engraçada, com uns momentos de tensão leve, trilha sonora envolvente… E ela está casada com o cara. Sem delongas, começamos a conhecer melhor o grupo de motociclistas liderado por Johnny (Tom Hardy).

Só que essa fragmentação do roteiro acaba por deixar algumas coisas confusas. Por exemplo, é revelado (num flashback curtinho) que Johnny, caminhoneiro profissional, criou o grupo após ver um programa de TV. E aí, já temos o grupo formado. Seria legal ter gasto mais alguns minutos de flashback para vê-lo conversando com os amigos e os convencendo a criar o clube.

O integrante que nunca apareceu, saiu e voltou…?

Em outro ponto da história, Kathy (Jodie Comer) lembra a Danny (Mike Faist, o jornalista que está registrando o grupo) que ele também fez parte dos Vândalos durante um tempo e, depois, saiu.

Só que, em nenhuma cena, é mostrada essa participação de Danny como motociclista. Lá na frente, Barata (Emory Cohen) fala de Danny como “o cara que participava do grupo e tirava algumas fotos”, agora “saiu do clube e vai escrever um livro”. Ou seja, dois personagens confirmam que Danny foi, em algum momento, um Vândalo, mas isso não é mostrado em nenhum ponto da história. Pena…

Focos e desfoques:

Enquanto Johnny, Benny e Kathy são bem desenvolvidos – pelo menos no lado pessoal – não temos uma exploração tão boa dos demais personagens. São “apenas” motociclistas que entram e saem de cena à medida que a história avança ou retrocede. Tem o cara que bate a moto numa esquina e morre – a cena serve para que os Vândalos se lembrem de outro motoqueiro que morreu uns tempos atrás e que Johnny tentou comprar a moto, mas o pai do morto recusou.

Em suma: tudo é aleatório demais, sem um aprofundamento adequado em nenhum tema.

Em determinado momento, Johnny afirma para Benny que os Vândalos estão crescendo e abrindo filiais em outras cidades e estados, mas que há um risco aí: jovens, com mentes voltadas para o crime, estão tomando a liderança dos clubes e os transformando em gangues.

Neste momento, entra em cena The Kid (Toby Wallace), um pretendente a integrante do clube que logo é refutado por Johnny. Nas cenas finais do filme ele volta, como membro de uma das filiais, e desafia o líder dos Vândalos.

Raso como uma piscina infantil:

Uma das premissas mostradas no trailer é, infelizmente, pouco valorizada ao longo dos quase 120 minutos: a rixa entre gerações (polarizada por Johnny e The Kid) e a tendência para o outrora clube de amigos em assumir o papel de gangue de bandidos. O roteiro e a direção poderiam jogar esse conflito um pouco mais cedo na história, de modo que tal trama assumisse o foco por volta dos 90 minutos do filme, por exemplo. Mas isso é apenas citado nos instantes finais, beirando os créditos. Uma pena, mais uma vez…

Finalizando, são poucas as cenas de rodovias e viagens mostradas no longa-metragem. Puxa! É um filme sobre um clube de motociclistas e raramente vemos os caras pegando a estrada, fazendo comboios, explorando cenários de tirar o fôlego. Na verdade, sempre que os vemos, eles estão enchendo a cara, reclamando da vida e comentando sobre possíveis novos problemas.

Como dito anteriormente, o filme tem ótima premissa, ideias excelentes, mas nenhuma delas passa da página 2… O longa-metragem se perde em uma infinidade de personagens subdesenvolvidos – no âmbito narrativo – em situações clichês e sem aquela pegada que esperaríamos ver num filme com a temática apresentada.

O final é inconclusivo, deixando aberta a sequência inicial daquele flashback ambíguo. Um baita anticlímax para um filme que já capengava desde os 45 minutos, mais ou menos.

***

Cotação por ossos:

5,0

***

NOTA PESSOAL FORA DO FILME:

O lenga-lenga do filme não ajuda e a experiência ainda foi prejudicada por uma queda de energia do Boulevard Shopping, Belo Horizonte, onde a sessão acontecia. Foram cerca de 20 minutos de “escuridão total num céu sem estrelas” e, quando o filme voltou, ainda houve problemas para sincronizá-lo e voltá-lo ao ponto em que estava antes do apagão. Primeiro, só áudio, depois uma cena bem posterior à que se encontrava originalmente e, por fim, a volta ao ponto certo (nem tão certo assim). Embora o cinema, estúdio e empresa responsável pela sessão não tenham tido culpa, foi uma experiência frustrante.

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