ATENÇÃO: ESTA CRÍTICA CONTÉM SPOILERS.
Cinebiografias estão cada vez mais em alta e “Bob Marley: One Love” estreou nos cinemas brasileiros em 15 de Fevereiro. Dirigido por Reinaldo Marcus Green, que já assinou outros filmes como “King Richard” (também uma cinebiografia) e “A Cidade é Nossa” (2021), nesta nova cinebiografia temos Kingsley Bem-Adir como protagonista e Lashana Lynch como Rita Marley.
Na história, conhecemos Bob Marley na Jamaica em 1976, já consolidado na música, período que retrata os conflitos armados no país devido a questões políticas, sociais e econômicas marcadas por violência entre o Partido Nacional do Povo (PNP) e Partido Trabalhista da Jamaica (JLP), liderados por Michael Manley e Edward Seaga, respectivamente. Em uma tentativa de assassinato contra o músico em sua própria casa durante um show pela paz chamado “Smile Jamaica Concert”, ele e sua esposa sofrem ferimentos leves. O cantor decide sair de sua terra e ir para Londres com parte de sua banda buscar formas de entender o seu propósito, orientando sua esposa e filhos a ficarem em Nova York até se sentirem seguros para se reunirem novamente.
A obra tem ótimos pontos: a atuação de Lashana como Rita Marley, mostrando como esposa, backing vocal e alguém que se importa com o protagonista, rouba a cena muitas vezes. Seus conflitos pessoais e amorosos são demonstrados. As músicas também funcionam como parte da história de maneira natural e bela, reforçando tanto sua ideologia quanto sua religião. Outro ponto positivo é o próprio êxodo do cantor e toda a questão da criação do álbum “Exodus”. Em termos de composição e ritmos, a ideia era mostrar a força do povo jamaicano para o mundo, promovendo a paz, o amor, a luta e a resiliência de viver em meio a conflitos e buscar a calmaria. Em relação à religião, conhecemos um pouco sobre Jahweh, tradição judaico-cristã, mais conhecido como Jah, para os rastafáris, que acreditam que ele é o criador do universo e o governante supremo da humanidade. A adoração é parte central da espiritualidade rastafári. Toda essa devoção e como Marley e sua banda buscam explorar essa mensagem de viver em unidade ganham pontos e trazem o telespectador para perto.
Aqui vai um spoiler: em quase seu ato final, vemos que Marley faz sua turnê “Exodus” e se potencializa em questão mundial, mas retorna à Jamaica. Se antes ele era alvo, passando por perseguições, agora ele é aclamado, todos o querem por perto. “Get Up, Stand Up” abre o longa em questão de como os jamaicanos precisam se levantar e ficar atentos em meio aos conflitos. “War/No Morte Trouble” desempenha um papel importante sobre a questão de marchar por Jah e por seu povo. “No Woman, No Cry” preocupa-se em mostrar mais os conflitos de Rita Marley e sua relação com a banda e o artista.
O filme deixa a desejar em questão de montagem, já que temos um Bob Marley músico e influente, e parte de sua história é contada em pequenos flashbacks. Senti falta de ver a camada pessoal e de sua trajetória artística até ser reconhecido em seu próprio país. O ritmo não linear é até uma ideia bacana que foge das fórmulas tradicionais de cinebiografias, mas que pouco explora o passado e mais o presente.
“Bob Marley: One Love” é indicado para fãs e não fãs, contrastando com a pessoa real de quem Bob representou e conseguiu unir povos rivais em nome da paz e do amor. Um filme que explora parte de sua caminhada de resiliência e de se tornar o símbolo da paz. Vale a pena conferir, livre de qualquer informação a respeito do cantor, até para não reproduzir estereótipos ou reforçar preconceitos. O longa é um convite à Jamaica e ao povo jamaicano, clamando por paz.
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Cotação por Ossos:
6,5

