Liberdade e Autodescoberta em “Pobres Criaturas”

A escolha da cor é um acerto no filme de Lanthimos

Marcos Tadeu

“Pobres Criaturas” chega aos cinemas brasileiros no dia 1º de fevereiro de 2024, dirigido por Yorgos Lanthimos e estrelado por um elenco primoroso: Emma Stone, William Dafoe e Mark Ruffalo, que contribuem para contar esta intrigante história. Baseado no livro de Alasdair Gray, publicado em 1992, a trama apresenta Godwin Baxter (William Dafoe), um cientista responsável pela criação de Bella Baxter, com um corpo de mulher e o cérebro de um bebê.

Do ponto de vista técnico, Yorgos explora o uso do preto e branco, além da falta de cor, para retratar a vida monótona de Bella em sua rotina. Godwin, figura patriarcal para a garota, constantemente se preocupa em restringi-la, impedindo-a de explorar o mundo ao seu redor. O filme utiliza também cores pastel e suaves para mostrar a protagonista demonstrando garra e força ao explorar o mundo à sua volta. Essa estética surrealista contribui para a narrativa de maneira eficaz.

Emma Stone está espetacular e brilhante em seu papel. Seu jeito estranho e confuso retrata uma Bella que precisa sair de onde está e se autoconhecer. Essa busca pelo mundo exterior pode ser analogamente relacionada ao “Mito da Caverna” de Platão, onde a ignorância impede a revelação da verdade. Bella precisa sair da caverna, e duas figuras masculinas equilibram essa jornada, mostrando a ela as dores e delícias da sociedade civilizada.

Max McCandles, assistente de Godwin, apaixona-se por Bella, revelando através do amor um mundo no qual ela pode e deve habitar. Por outro lado, Duncan Wedderburn (Mark Ruffalo), um advogado mesquinho e ganancioso, vê em Bella uma oportunidade de explorá-la. Esse contraste destaca a necessidade de Bella entender-se como pessoa, descobrindo seus desejos e vontades. Essa busca por autoconhecimento é constante e crescente.

Talvez o ponto negativo do filme seja a exploração limitada do cientista Godwin e sua trajetória que o transformou em uma pessoa amarga e bruta em relação aos outros ao seu redor.

“Pobres Criaturas” é, sem dúvida, uma experiência cinematográfica que vale a pena ser assistida em uma grande tela de cinema, acompanhada de um áudio extraordinário. Merecidas são também as suas 11 indicações ao Oscar nesta temporada de premiações.

***

Cotação por ossos: 9,5

***

Deixe um comentário