Crítica: Sobreviventes – Depois do Terremoto

Filme catástrofe aborda dilemas humanitários após uma tragédia

Antônio Pedro de Souza

Convenhamos que o chamado cinema catástrofe sempre nos brinda com produções megalomaníacas cujo principal objetivo da humanidade é evitar ao máximo situações-limite ou sobreviver a elas, mesmo que de maneiras pouco críveis. E tome uma gama imensa de tragédias: maremotos, terremotos, meteoros e até mesmo seres gigantes que, por uma razão ou outra, saíram de seu habitat natural para confrontar os humanos. Também é verdade que a maior parte desses filmes termina com a tragédia em seu ápice, deixando-nos com a pergunta: “como esse pessoal vai limpar essa bagunça agora?”

De uns anos pra cá, porém, alguns filmes ousaram deixar as tragédias como um pano de fundo, concentrando-se no momento pós-apocalíptico e tentando responder à pergunta anterior. Como mais recente integrante deste filão temos, agora, “Sobreviventes – Depois do Terremoto”.

Seul, na Coreia, é devastada por um poderoso terremoto e um prédio, num condomínio, fica de pé, com seus residentes tendo que unir forças para sobreviver, enquanto esperam um socorro externo.

O foco da trama é a nova organização social, seus percalços e erros. Como dito, o terremoto, a tragédia inicial, fica em segundo plano. O filme já começa após o grande tremor de terra, com sobreviventes já machucados e tentando se organizar. Ao longo da projeção, claro, para satisfazer a curiosidade do público, o momento da catástrofe é mostrado em alguns flashbacks, mas, repetindo, esse não é o foco do longa-metragem.

Com centenas de pessoas assustadas, machucadas e com fome dentro do condomínio e milhares em situação pior do lado de fora, os residentes precisam criar regras, algumas rígidas e desumanas. Assim, os forasteiros, chamados pejorativamente de “baratas”, são expulsos em meio ao frio e caos da cidade devastada.

Entre os residentes, são eleitos cargos de chefia para não deixar que aquele resquício de sociedade entre em colapso. Porém, quando algumas pessoas começam a acolher desabrigados, lembrando que ainda são seres humanos e que todos merecem ajuda, uma onda de desconfiança, pânico e violência começa a reinar.

O poder corrompe e os líderes se tornam verdadeiros tiranos, com poder de julgamento para fazer atrocidades inimagináveis. Em contrapartida, alguns residentes cansados dos desmandos de uns poucos, começam a investigar e descobrem um segredo desconcertante, levando ao ápice do filme, onde tudo pode acontecer num embate aflitivo e violento.

O roteiro é bem escrito e a filmagem capta a essência da história. Os conflitos psicológicos/morais/éticos permeiam a trama, fazendo-nos refletir sobre nossas ações em meio a situações desesperadoras. O filme, porém, é longo: são duas horas e dez minutos, o que o torna cansativo em alguns pontos, deixando de lado a ação e os debates, para mostrar longas cenas que soam vagas. Outro fator que joga contra é a trilha sonora: em alguns momentos – principalmente nos primeiros 45 minutos de projeção – ela traz um tom cômico, mesmo se tratando de um filme trágico. Depois, ela começa a se encaixar melhor nas cenas. A atuação do casal protagonista, vivido por Park Seo-Joon e Park Bo-Young é de uma vivacidade que envolve o espectador. Lee Byung-Hun encarna um antagonista que apresenta várias nuances ao longo do filme.

Uma boa pedida para o mês das férias.

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Cotação por ossos: 9,5

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Ficha Técnica:

Elenco:

Young-Tak – Lee Byung-Hun

Min-Sung – Park Seo-Joon

Myeong-Hwa – Park Bo-Young

Direção:

Tae-hwa Eom

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Imagem: Paris Filmes

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