Five Nights at Freddy’s Pesadelo Sem Fim faz ponte entre terror psicológico e slasher

Antônio Pedro de Souza

Momento de confissão antes da análise cinematográfica: Há alguns anos tenho reparado nuns livrinhos de capa preta com bichos animatrônicos e títulos curiosos. Mas só reparado mesmo. Sempre que os vejo nas livrarias, dou uma olhadela e os deixo nas respectivas estantes. Talvez o que tenha me chamado a atenção nos tais livros seja o título, que inclui o nome “Freddy” em letras garrafais. Nome relativamente comum, é verdade, mas para quem é fã do cinema de terror, qualquer coisa que traga o nome “Freddy” costuma chamar a atenção e uma ligação com uma famosa franquia iniciada em 1984 é inevitável…

Pois bem, foi isso que me levou a pegar um desses livros certa vez e ler a sinopse. Passada a curiosidade inicial e visto que tais livros nada tem a ver com a famosa série de filmes “A Hora do Pesadelo”, os títulos voltaram a repousar em seus lugares nas livrarias até que…

Até que fui chamado a assistir ao filme Five Nights at Freddy’s. Ao pesquisar rapidamente sobre a produção, descobri que se tratava de uma adaptação dos tais livrinhos que, por sua vez, eram inspirados em um jogo de videogame.

Fui à livraria mais longe da minha casa (não existe uma “mais próxima”) e comprei os três volumes lançados aqui no Brasil pela Intrínseca. Também pesquisei sobre o jogo e, finalmente, assisti ao filme. A história é boa, mas meu lado “slasher anos 80” queria umas decapitações a mais na tela…

Por partes:

O videogame foi lançado em 2014 e, na trama, os jogadores controlam o segurança Mike, responsável por manter a ordem na pizzaria Freddy Fazbear. O local é conhecido pelos animatrônicos gigantes que fazem a alegria da criançada durante o dia, mas as querem como alimento à noite…

Os livros acompanham a personagem Charlie, cujo pai era dono da pizzaria Freddy Fazbear, que fechou as portas após o sumiço de algumas crianças. Dez anos após os eventos, Charlie volta para a pequena cidade para se encontrar com amigos. Eles, então, vão até onde era a pizzaria e descobrem que os animatrônicos permanecem quase intactos. Alguns ataques acontecem e os jovens descobrem uma verdade para a qual não estavam preparados.

E o filme… Bem, o longa é uma mistura de elementos dos jogos e dos livros. Temos o segurança (personagem central do primeiro jogo), o desaparecimento do irmão de um dos protagonistas (uma das tramas do primeiro livro) e, claro, novos elementos, aumentando o poder narrativo da história.

Deste modo, Five Nights At Freddy (O Filme) entra no rol de narrativas transmídia, ou seja, uma história que ganha vida em diversos meios sem, necessariamente, ser uma simples adaptação uma da outra, mas sim, criando novos elos entre as histórias e as expandindo.

O longa metragem acompanha Mike, jovem que tem diversos problemas no emprego e luta para cuidar da irmã mais nova. Do passado, ele tem um trauma: O sequestro do irmão. Após ser demitido de um shopping, Mike aceita o emprego noturno de segurança da Freddy Fazbear, uma pizzaria fechada há dez anos, após alguns sumiços e assassinatos suspeitos.

Lá, ele conhece Vanessa, uma policial que parece gostar do lugar. Aos poucos, os segredos vão se revelando e levando os personagens a um desfecho digno das produções mais sangrentas da década de 1980.

Dois lados

O filme, como foi dito, mescla elementos dos jogos e dos livros, além de tentar criar uma identidade própria. Com isso, a maior parte do roteiro é centrada num terror psicológico, bem comum e produções pós-2015 (mas que, nem por isso, precisam ser classificadas como pós-terror. Você precisa abolir este termo esdrúxulo do seu vocabulário). A direção acerta a mão em trazer as nuances do sofrimento de Mike, todas as vezes em que ele se recorda do irmão raptado na infância. Porém, depois, o filme foca no terror sangrento, com ares de sobrenatural e slasher, algo que já era anunciado nos trailers e materiais de divulgação e, com isso, ganha uma nova pegada, uma nova velocidade, um novo tom. E não perde a mão. Porém, esses elementos demoram a entrar no filme, deixando o espectador com um gosto de “quero mais”, algo que já havia acontecido com o “upgrade” tardio de Jason em “Jason X”, por exemplo…

E quando o sangue finalmente começa a respingar na tela, somos levados a investigar os motivos de isso tudo estar acontecendo e aí, mais uma vez, recebemos várias sequências de explicações psicológicas e lições de moral para, só então, o sangue voar de novo e os créditos subirem pela tela.

Ou seja, o filme se prolonga demais em um didatismo desnecessário para o gênero e, ao tentar equilibrar o terror psicológico com o terror sangrento, acaba pendendo a balança para o lado da mente, deixando o sobrenatural de lado. Bem afastado.

É bom, claro, mas poderia ser mais equilibrado. Ou pender para a carnificina desenfreada…

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Cotação por Ossos: 8,5

Status: “Dormível” entre os 35 e os 50 minutos

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Imagem gentilmente cedida por Universal Pictures e Espaço/Z

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