Crítica de um filme que é RUIM PRA CACHORRO

Antônio Pedro de Souza

Pode um filme sobre cachorro ser ruim? Talvez, por estarmos acostumados a produções nostálgicas como a clássica franquia Lassie, aos novos e emocionantes clássicos Sempre ao Seu Lado e Marley & Eu; além de produções divertidas como Bingo – Esperto Pra Cachorro; O Máskara (com o engraçadíssimo Milo) e ainda títulos que mesclam romance e aventura como Quatro Vidas de um Cachorro, Juntos Para Sempre e A Caminho de Casa, essa pergunta pode parecer estranha. Mas, sim, conseguiram fazer um filme genuinamente ruim com uma temática canina.

Ruim Pra Cachorro não é ruim só no nome: o roteiro é bobo, os personagens humanos são ridículos (com exceção das crianças, que salvam um pouco da dignidade do longa) e os diálogos, sofríveis. Além das crianças, quem consegue “salvar” (se é que isso é possível) o “filme” são os cães, carismáticos ao extremo. Mesmo assim, a ação dos peludos se perde em meio a piadinhas humanas de caráter duvidoso.

A produção até tenta passar uma mensagem a respeito dos direitos doas animais, mas é notório que isso só foi feito para gerar engajamento e tentar dar um respaldo para que a falta de história fosse adiante. A “mensagem bonita” se perde na infinidade de cenas sem noção e piadinhas sem graça.

O filme gira em torno do cachorrinho Reggie, que vive com seus donos humanos, até que ele encontra uma calcinha de outra mulher, o que culmina na separação dos seus tutores. Como vingança, o homem fica com o cachorro, não por amor, mas para separá-lo da namorada (que realmente gostava do animal) e infernizar a vida do pequeno.

Só que Reggie não percebe, de imediato, essa intenção do dono, acreditando piamente que o humano gosta dele – mesmo quando saem de carro e o homem joga a bolinha para que, enquanto Reggie corra para buscá-la, ele dê no pé abandonando o animal.

O cachorro sempre volta com a bolinha, para desespero do humano boçal. Até que este traça um plano mais pérfido ainda: sai com o bichinho para uma viagem de mais de três horas e o abandona numa grande cidade.

Neste novo mundo, Reggie conhece outros cães – alguns de rua, outros que trabalham em terapia, enfim… Uma gama variada de atividades. E com a ajuda deles, resolve voltar para casa e para seu dono. Só que os cães o fazem entender que o humano não merece o seu amor, dando início assim a um divertido plano de vingança.

O filme tinha a fórmula certa para ser sucesso, mas como dito, acaba se perdendo em meio a uma enxurrada de besteiras, infindáveis palavrões e piadas de cunho sexual e escatológicas – sem uma expertise que faria deste um novo clássico.

Tudo o que o filme tenta construir em torno do adorável Reggie e seus amigos em uma cena, é destruído na cena seguinte, com momentos bem bobinhos que tentam ser engraçados.

Ressalto: Não há nada demais em um filme trazer uma carga de palavrões ou piadas/situações de duplo sentido, desde que isso esteja em um contexto da história e, realmente, consiga divertir o espectador – vide os ótimos Debi & Loide e Eurotrip, para citar bons exemplos. Porém, a impressão que fica em Ruim Pra Cachorro é de que os palavrões, a escatologia e o apelo sexual só foram inseridos para tentar minimizar a falta de roteiro e os diálogos insulsos… No entanto, esses elementos apenas reforçam os problemas estruturais do longa.

E quanto ao plano de vingança do Reggie?

Bem, ele consiste em “arrancar o pau do Doug” (palavras do próprio Reggie). A aguardada cena da vingança é um dos momentos realmente divertidos do filme que consegue até criar um clima de suspense: será que Doug se arrependeu dos seus atos ou é um incorrigível filho da puta? Só assistindo pra saber. Mas não recomendo passar os 90 minutos anteriores vendo algo tão bobo.

Enfim, Ruim Pra Cachorro mira em besteiróis que deram certo, mas acerta nas piores esquetes do Porta dos Fundos e em filmes como A Festa da Salsicha e 50 Tons de Preto, só pra citar o nível de ruindade do filme mesmo… “A Festa”, pelo menos, é divertido da primeira vez em que se assiste…

O longa não se decide entre a comédia e a aventura e exagera nos termos de baixo calão, o que agradaria marmanjos, mas é desaconselhável para crianças – e elas fazem parte do elenco e, supomos, fariam parte do público, por causa do apelo animal… Assim, o filme se apresenta como um amontoado de conceitos e, no fim, não conclui nenhuma das premissas. Sabe aquele trabalho de escola em grupo em que cada um fica responsável por uma parte e, no fim, sai um monstrengo sem pé nem cabeça? É isso!

Numa cotação por ossos, que vai de 0 a 10, feita aqui pelo Projeto Lumi, o filme leva apenas 5. E isso só por causa dos cachorros mesmo!

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Imagem gentilmente cedida por Universal Pictures e Espaço/Z

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