Na estreia das crônicas dominicais relembro uma estranha aventura da infância
O ano era 1996 e eu tinha sete anos de idade. Havia no bairro Santa Clara, próximo ao Jardim Daliana, onde resido, um centro de cursos técnicos que era usado pela prefeitura da cidade como escola provisória, quando uma nova escola estava em construção.
Fazia minha primeira série do primeiro grau (nomenclatura usada em 1996) neste centro, enquanto a escola Maria Natividade Fonseca não era inaugurada. Estudava à tarde e minha mãe sempre me buscava.
Ao lado da escola, havia um posto de saúde (ainda funciona) e, em frente ao posto, havia uma padaria (que não existe mais).
Naquela época, o famoso Kinder Ovo custava R$1,00 e, ao menos uma vez por semana, ganhava um dos meus pais.
Certo dia, ao sair da escola acompanhado de minha mãe, passamos em frente à padaria e eu fui subitamente agarrado!
Um sujeito enorme, com um boné azul e uma barba que lembrava o Raul Seixas na capa do disco “Os Grandes Sucessos” lançado em 1983.

Eu só conseguia ouvi-lo dizer: “Você vem comigo! Pode se despedir da sua mãe, porque essa é a última vez que você irá vê-la!”
Cara, para um pirralho de sete anos, isso é uma coisa assustadora!
Lembro que minha mãe começou a me puxar de um lado e o grandalhão desajeitado me puxava do outro, enquanto eu chorava!
O irônico – ou cínico – nesta história é que outras mães que também pegaram seus filhos na porta da escola no mesmo horário, nem sequer se viraram para ver o acontecido. Seguiram seus caminhos normalmente. O pessoal da padaria também não interveio.
A cena deve ter durado um ou dois minutos, mas para mim pareceu ser bem longa. Por fim, minha mãe reuniu sua última reserva de energia e deu um puxão forte, desequilibrando o homem e me salvando.
Em relação às outras mães, apenas perguntaram o porquê de termos ficado para trás…
No dia seguinte, perguntamos ao pessoal da padaria e fomos informados de que o grandão que tentou me raptar tinha distúrbios mentais e, provavelmente, estava sem medicação durante o fato.
Nunca mais o vi, mas durante um bom tempo passei pelo outro lado da rua quando me aproximava daquela padaria…
